Pandemia em Portugal: uma visão local da evolução do coronavírus

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João Lemos Viegas

ESPECIAL DA EUROPAPortugal, na primeira fase da pandemia, março a junho de 2020, apresentou resultados extraordinários, ao ponto dos lideres políticos, presidente da república, primeiro ministro e os vários líderes da oposição, considerarem o desempenho do país um milagre.

Recorde-se que Espanha, mesmo aqui ao lado, e que tem uma população 4,5 vezes maior que Portugal, chegou a ter 50 vezes mais mortes por dia que Portugal. À semelhança de Itália, Reino Unido e França. Portugal foi dos melhores países da União Europeia, durante a primeira fase da pandemia.

Tais resultados deveram-se a um confinamento total da população, com encerramento das escolas nos vários escalões, por um mês.

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Esta medida teve um efeito catastrófico nas contas públicas do país e também na economia. A atividade econômica caiu e por consequência as receitas dos impostos também. Por seu lado as despesas do estado com o apoio social às famílias e empresas que fizeram dispararam, segundo as previsões do Banco de Portugal, o PIB cairá 8,1%, em 2020, a taxa de inflação será próxima de zero, e o déficit das contas públicas será de 8,4%, muito longe do limite que a União Europeia impõe que são 3%, mas que está suspenso desde o início da pandemia.

Com o levantamento das restrições no Verão, com a chegada do Inverno, que este ano está a ser bastante frio e o levantamento de algumas restrições no fim-de-semana do Natal, em Janeiro o número de casos de Covid-19 tem vindo a bater recordes todos os dias, tanto em infectados como em mortes. Hoje, dia 28 de Janeiro, dia em que escrevo este texto, Portugal registou 303 mortes por Covid-19 e 16.432 infectados. Para perceber a dimensão destes números no Brasil, basta multiplicar por 21, e aí teremos 6.363 morte e 345.072 infectados num só dia. Assim passámos de milagre a pior país do mundo.

O governo alega que este crescendo da pandemia deve-se também à nova estirpe do vírus, a estirpe do Reino unido. O encerramento tardio das escolas que fiz propagar o vírus entre a comunidade é também uma possível explicação para estes números. O governo foi bastante resistente no encerramento das escolas, pelo impacto que este teria não só no sucesso escolar dos alunos, como o impacto na economia. Crianças em casa, implica que pelo menos um dos pais também tenham que ficar em casa. Pelo menos nos pais que têm filhos até aos 12/14 anos. Em Portugal na quase totalidade dos casais ambos trabalham.

O novo confinamento que estamos a viver hoje, só trará resultados no espaço de 2 a 3 semanas, isto é, no fim da semana 8 a 11 de Fevereiro é que começaremos a sentir uma quebra no número de mortos e infectados. No entanto o decréscimos para níveis de Março/Abril de 2020, poderão só vir a ser atingidos no espaço de 2 a 3 meses, daí o presidente da República já ter avançado com uma hipótese de confinamento até Junho. Por isso o estado de emergência foi renovado por mais 15, isto porque a Constituição Portuguesa não permite declarar o estado de emergência por períodos superiores. Todas as quinzenas, o estado de emergência tem de ser avaliado e votado no parlamento, do qual sai uma proposta de lei, que é posteriormente retificada pelo Presidente da República e publicada em Diário da República.

A esperança para esta esta situação é a toma da vacina começar a proteger os grupos mais vulneráveis, nomeadamente os idosos acima dos 80 anos, onde a taxa de mortalidade é de 135 mortos em cada mil infectados. Recorde-se que a esperança de vida média à nascença em Portugal foi estimada em quase 81 anos (80,93), sendo 77,95 anos para os homens e 83,51 anos para as mulheres no período 2017-2019, indicam os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE).

O processo de compra das vacinas na Europa

O processo de compra das vacinas na Europa foi assumido de forma centralizada pela União Europeia, num gesto de união, para fazer face à corrida dos grande blocos mundiais, como são a China, Índia e os EUA. Assim a Europa garantiu doses de vacinas suficientes para mais que vacinar toda a população. As principais vacinas a serem usadas na Europa, são a Pfeizer, Moderna e com aprovação da Vacina da AstraZeneca na segunda quinzena de Janeiro, mais tarde chegarão mais 6 vacinas num total de nove.

Todas estas vacinas são de duas tomas, e o período que deve mediar a primeira da segunda toma são no máximo 21 dias, para que os níveis de eficácia da vacina sejam verificados.

Siphiwe Sibeko: Reuters/Direitos Reservados

O desafio logístico de cada vacina

Os serviços de saúde nacionais e os prestadores locais serão os responsáveis pelo armazenamento e pela administração das vacinas, uma vez entregues pela Pfizer. Podem ser mantidas num frigorífico de temperaturas ultrabaixas até seis meses. Ou apenas cinco dias, entre os 2 e os 8 graus Celsius – um tipo de refrigeração comum nos hospitais – estragando-se depois disso, segundo Kim Bencker. O diretor executivo da BioNTech, Ugur Sahin, disse à Reuters que as empresas estão a analisar se podem estender esse prazo para duas semanas.

A vacina da Moderna, baseada numa tecnologia semelhante, não precisa ser armazenada a uma temperatura tão baixa. Outras vacinas também em testes, incluindo as da Johnson & Johnson, que é só de uma toma, e da Novavax, podem ser armazenadas entre 2 e 8 graus Celsius, a temperatura de um frigorífico comum.

Este problema de logística pode trazer dificuldades de vacinação e eficiência desiguais em países em que as fracas vias de acesso, a dimensão do pais e as temperaturas sejam mais elevadas. Também neste capítulo o desequilibro económico se fará sentir, num mundo em que a pandemia acentuou as desigualdades entre ricos e pobres.

Foto: Rafael Marchante/Reuters

A vacinação na Europa – Portugal

Os Estados Unidos são o país que mais doses administrou, contabilizando 26.193.682 norte-americanos que já foram picados contra a covid-19. Segue-se o Reino Unido, com 7.923.497 vacinados, e em terceiro lugar surge Israel, com 4.347.206 cidadãos inoculados.

No entanto, quando se analisa o número de vacinados por cada 100 habitantes, Israel salta para o topo, logrando imunizar 49 pessoas entre uma centena. Nesse aspeto, Portugal ocupa a 15.ª posição na tabela, de acordo com as contas efetuadas pelo New York Times, com base em dados da Universidade de Oxford.

Portugal já vacinou 2,9 pessoas por cada 100 habitantes, o que perfaz um total de 296,004 (Portugal são 10 milhões de pessoas). O ritmo é semelhante ao de Espanha, também com 2,9 imunizados em 100, o que faz com que 1,356,461 dos “nuestros hermanos” já tenham tomado, pelo menos, uma das duas doses.

Os dois países ibéricos estão, de resto, bem acima da média mundial de vacinados por cada 100 habitantes, que atinge um rácio de 1,1. É quase o triplo, mas isso não significa um sucesso. É resultado apenas de dois continentes inteiros, África e Oceania, ainda estarem a zero no número de imunizados.

Entre os 15 primeiros, Portugal e Espanha são superados por oito países do Velho Continente, em termos de inoculação em função da densidade populacional: Roménia, Eslovénia, Irlanda, Dinamarca, Islândia, Malta, Sérvia e Reino Unido estão a vacinar a melhor ritmo. Ainda assim, Portugal surge à frente de Itália, Alemanha e França.

Citando a fadista Amália Rodrigues, O dinheiro não trás felicidade, mas tira o nervoso miudinho.

 

De Lisboa despeço-me com um forte amplexo e mil ósculos ao povo irmão.

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