Como os cursinhos populares lutam para manter ensino na pandemia

Estudantes e administradores de cursinhos populares relatam as dificuldades e desafios em 2021

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Foto: Pinterest/Reprodução.
Foto: Pinterest/Reprodução.

Guia do Estudante – A pandemia da covid-19 mudou a rotina de estudos de todos os alunos do país. E, claro, também daqueles que estão em cursinhos populares, se preparando para competir por uma vaga numa universidade pública. Enquanto os professores, acostumados à plateia real, tiveram que encarar as câmeras, os alunos ficaram cada vez mais expostos às telas. Mas nem sempre essa adaptação foi fácil, nem imediata. Aqui, contamos como cursinhos populares buscaram meios, muitas vezes diversos, de continuar ensinando.

O cursinho 4 de Dezembro (4D), fundado por alunos da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), dava todas as aulas na própria faculdade – fechada desde o início das infecções pelo coronavírus. E, sem seu único local de ensino, teve que buscar alternativas virtuais. No primeiro semestre, entender o sistema de ensino a distância foi complicado: ficou decidido que o cursinho só daria aulas próprias de redação. Mas, para não deixar os alunos na mão, fechou uma parceria com um outro cursinho online.

“Estava tudo pronto para começar só que, por conta da pandemia, a gente teve que procurar essa parceria com o Descomplica para não deixar os alunos na mão”, diz Pedro Romani, 19, Diretor Institucional do cursinho 4 de Dezembro. Passado o primeiro baque da pandemia, no segundo semestre, o cursinho voltou a dar aulas de todas as disciplinas.

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Já no cursinho da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (FEA-USP), a agilidade foi maior. “Houve uma pausa de três dias até que os professores se organizassem para oferecer aulas virtuais”, Maria Julia Bastos, 19, coordenadora de Marketing do cursinho.

Desafios e soluções

Leonardo Anastácio, 18, cursava Psicologia no começo do ano. Já nos primeiros meses da graduação, ele percebeu que não era o curso ideal: o que queria mesmo era cursar Ciências Sociais na USP.

Ele saiu da faculdade e se matriculou em dois cursinhos populares, o Aluno Ensina e a UNEafro, assim que as aulas presenciais foram suspensas por causa da pandemia.

Desde então, ele está estudando de forma remota, mesmo preferindo as aulas presenciais. Para ele, o mais difícil é absorver o conteúdo das disciplinas em que tem mais dificuldade. Mas observa que existe uma grande diferença entre ver aulas gravadas e acompanhar uma aula em tempo real. “Meu problema era estudar sozinho vendo as aulas gravadas. Já as aulas online com o professor passando textos e lendo com a gente é a mesma qualidade do presencial”, diz o estudante.

Uma das barreiras do ensino online são as dificuldades de infraestrutura tecnológica. No cursinho da FEA, que conta com 240 alunos, apenas 40 assistem às aulas online e os outros assistem às aulas gravadas, de acordo com um questionário veiculado entre os estudantes. Esse fato pode ser explicado pela dificuldade de conexão no momento que a aula está acontecendo.

Outro problema com o aprendizado dentro de casa é que, muitas vezes, o ambiente não é favorável. Alguns alunos não têm espaço confortável para estudar, além da rotina de cada família, que influencia o horário de estudo de cada um. “Se antes tinha horário fixo para ver aula, hoje não tem, porque depende muito de como é a rotina em casa. Se tem muita gente, muitos fazem escola junto e muitos trabalham”, diz Maria Julia.

A nova dinâmica não é perfeita. Tanto professores quanto alunos sentem a perda de contato humano com os colegas. “Falo sempre que tenho muito medo de ter um colega de faculdade e eu não saber que dei aula. É legal entender com quem a gente está lidando”, diz Pedro. “É sempre bom ter colegas de estudos, não só para temas de vestibular, mas para conversar sobre outras coisas. E também ajuda no vestibular, pois aumenta nosso capital cultural”, afirma Leonardo.

Os cursinhos também enfrentam falta de visibilidade. Muitas vezes, essas instituições funcionam sem auxílios, por universitários que também estão aprendendo – e encarando, eles mesmos, os desafios de aprender online, além de ensinar.

Para enfrentar essa dificuldade, surgem iniciativas como a Brasil Cursinhos, uma associação privada sem fins lucrativos composta por universitários que tem como objetivo auxiliar cursinhos populares pelo país. Ela proporciona uma rede de apoio e contato, para que as instituições possam se comunicar, além de cursos e palestras de capacitação.

“Não acho que é falta de empatia com a causa, mas uma questão da gente se mostrar mais pra sociedade”, diz Douglas Jun, 22, presidente da Associação, sobre a visibilidade. Para ele, a invisibilidade é decorrente de o cursinho ser uma ferramenta de reparação do Ensino Básico. “Eu vejo o cursinho como algo gerado pela falha do ensino. A escola não nos prepara para o vestibular”, concorda Leonardo.

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