A crise cambial no Brasil e os impactos na economia

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No modelo clássico de economia aberta, de Keynes, o recurso à desvalorização da moeda pode ser uma forma de garantir uma maior competitividade da economia em relação ao mercado externo por via do aumento das exportações e redução das importações. A desvalorização da moeda deve feita, sempre que a economia perde dimensão de modo a fazer corresponder o valor da moeda circulante com a riqueza real do país.

O Brasil tem vindo assistir nos últimos anos a uma desvalorização continua do Real, que desde 16 de Abril de 2020, há aproximadamente um ano desvalorizou mais de 15% face ao euro (5,699 vs 6,74).

Este processo de desvalorização da moeda, permite às economias tornarem as suas exportações mais competitivas e os bens e serviços importados mais caros, protegendo assim bens concorrentes que sejam produzidos internamente. No entanto, o Brasil é uma economia pouco aberta ao exterior, 26% comparado com os 60% de Portugal, dados de 2020. O nível de abertura mede-se somando as exportações com as importações e dividindo pelo PIB desse ano, i.e., os fluxos de comércio que cada país tem com o exterior em relação à riqueza total gerada.

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Com este nível de abertura, a desvalorização da moeda como mecanismo de ganho de competitividade pode ser pouco eficaz e agudizar a crise interna.

Ao desvalorizar a moeda tornamos os bens transacionáveis menos competitivos no mercado interno. As importações tornam-se mais onerosas, mas também os bens produzidos internamente para exportação tornam-se mais caros no mercado interno.

Um produtor brasileiro se vender o seu produto no mercado externo por €1, em 2020 vendia no mercado brasileiro por R$ 5,699, mas em 2021 vai vendê-lo por R$ 6,74, isto é, mais 15%, visto poder ter este ganho na exportação em detrimento do mercado local. Como sabemos os empresários no Brasil e em todo o mundo têm o foco no lucro e não propriamente em caridade patriótica.

Há pois que perceber que o que conta não são as exportações ou as importações, mas sim os bens transacionáveis ou não transacionáveis. Este conceito não se aplica só a bens acabados mas também a matérias-primas importadas, que ao serem incorporadas no produto final nacional tornam-no mais caro. Exemplo mais evidente é o preço do Barril do Petróleo, que influencia o preço de um sem número de bens, pelo facto de fazer parte da sua cadeia produtiva.

Alguns economista e políticos em Portugal nos anos da crise das dividas soberanas do sul da Europa em 2008-2011, defendiam de forma afincada a saída de Portugal do Euro, voltando assim ao Escudo, com o intuito da gestão da moeda voltar ao controle interno, do Banco de Portugal ao contrário do que se passa hoje, em que essa gestão é feita pelo BCE – Banco Central Europeu, e assim pudéssemos pudéssemos promover a sua desvalorização de modo a facilitar as exportações e tornar mais caras as importações.

Para bem de Portugal esta tendência de pensamento não foi por diante, o ajustamento não se fez por via nominal, desvalorizando a moeda, mas sim por via da economia real. E este ajustamento fez-se assente na redução com o serviço da dívida pública portuguesa (juros) e com o aumento das exportações por via do turismo, visitantes estrangeiros a visitarem-nos.

No primeiro caso, uma política de emissão de divida por parte do Banco Central Europeu, que permitiu que Portugal se financiasse a 0% de juros e por vezes com taxas de juro negativas , já que o risco de títulos com a garantia do BCE têm menor risco que titulos de Portugal, que tinha acabado de entrar num processo de pedido de apoio financeiro à Troika (BCE, Comissão Europeia e FMI), assim como contrair novos financiamentos a taxas de juro zero, para pagar financiamentos que estavam com spreads de 7%, de 2011. Foi essa forte redução com a despesa em juros que permitiu injectar dinheiro na economia e deixar cair algumas medidas de autoridade do tempo da Troika, que foram necessárias para reduzir a despesa do estado e pagar a divida pública e as obrigações decorrentes dos empréstimos (o apoio foi de €78 mil milhões, dividido de forma igual pelas três entidades).

O Boom no turismo, fui resultante de várias situações, a) a instabilidade em alguns países do norte de África, e no sul da Europa (França e Espanha), onde o terrorismo árabe se fez sentir e que normalmente rivalizavam com Portugal como destino de férias, por via de preços mais baratos; b) a grande promoção da imagem de Portugal em mercados fortemente propensos ao turismo; c) o facto de ser um dos 3 países mais seguros do mundo; d) povo acolhedor; e) país rico em história; f) o facto de os portugueses na generalidade falarem bem inglês o que lhe permite receber e dialogar com estrangeiros; g) comida; h) o clima ameno; i) prémios de turismo que premeiam as infraestruturas que Portugal tem para oferecer a quem nos visita; j) outros factores.

O turismo representou nos anos de 2017 a 2019 20% do PIB português; Portugal era visitado por 27 milhões de turistas por ano, face a uma população que pouco ultrapassa os 10 milhões.

Se multiplicarmos a população do Barsil por 2,7, teríamos um fluxo de turistas de 576 milhões de pessoas, que é 90 vezes mais que o que aconteceu em 2019, 6,3 milhões. Aqui pode estar a solução para tirar o Brasil desta trajectória de empobrecimento que a desvalorização da moeda está a levar.

De Lisboa despeço-me com um forte amplexo e mil ósculos ao povo irmão.

por João L. Viegas