Uma frase muito utilizada entre as massas é a de que “futebol e política não se misturam”. Na Eurocopa, há um exemplo evidente de que eles se misturam, sim (e muito). Quem está mais atento às transmissões do torneio europeu de seleções percebeu que os estádios têm recebido os torcedores com uma capacidade bem reduzida devido à pandemia da Covid-19, mas também deve ter reparado que, na partida entre Hungria e Portugal, válida pelo Grupo F, 100% dos lugares da Arena Puskás estavam ocupados (o estádio tem capacidade para 67.215 pessoas).
E por quê? A resposta está no governo de Viktor Orbán, o primeiro-ministro húngaro. Incentivador do futebol no país, o líder do partido conservador Fidesz não é adepto às medidas de proteção contra o coronavírus como o uso de máscara e distanciamento social. Exatamente por isso, a Hungria é hoje o segundo país do mundo com a maior taxa de óbitos por 100 mil habitantes (mais de 300 óbitos), só perdendo para o Peru, apesar de a vacinação estar em ritmo acelerado e ter alcançado quase 50% da população.
Nesse cenário, Orbán já pensa em sua quinta reeleição em 2022 e sabe que liberar eventos esportivos é uma medida muito eficaz para cair no gosto da população. Inaugurada pelo governo em 2019, a Arena Puskás é supermoderna e recebeu, no ano passado, a decisão da Supercopa da UEFA, entre Bayern de Munique e Sevilla.
Pouco mais de 15 mil pessoas puderam assistir ao jogo, que terminou com vitória dos alemães por 2 a 1. Na temporada 2020/21, com muitos países europeus com restrições de entrada, o estádio foi palco de algumas partidas da Champions League e também teve público (sem máscara nem distanciamento). Ou seja, as arquibancadas lotadas da Arena Puskás são um ato extremamente político de Viktor Orbán. Símbolos do nacionalismo húngaro puderam ser observados na partida entre húngaros e portugueses, que registrou o maior público da seleção local desde um amistoso preparatório para a Copa de 1986, contra o Brasil. Bandeiras, hino nacional (antes e depois do jogo) e mosaico com os dizeres “Brilhe novamente em sua gloriosa luz, Hungria” fizeram-se presentes.
Mas tudo é festa no estádio? Não. Os torcedores estrangeiros precisam apresentar comprovante de vacinação ou teste RT-PCR negativo para assistir às partidas.
Fora das limitações da arena, quem estiver vacinado e quiser aproveitar a cidade de Budapeste, capital da Hungria, pode frequentar reuniões em ambientes fechados, restaurantes, cinemas, teatros e museus livremente.
A Arena Puskás ainda receberá o jogo entre Hungria e França, neste sábado, às 10h (horário de Brasília) e o duelo entre Portugal e França, marcado para o dia 23 de julho, às 16h. O estádio também será palco de um jogo das oitavas de final.
Jovem Pan