O interesse por uma vida mais conectada à natureza e mais distante da instabilidade das grandes cidades têm despertado o interesse no minimalismo em diversas pessoas por todo o mundo. Acompanhando a tendência, as tiny houses – mini casa com espaços otimizados apenas para o básico – também ganharam adeptos no Brasil e passaram a ser um estilo de arquitetura procurado por quem que mudar seu estilo de vida.
De acordo com a arquiteta Camilla Pereira, do escritório Porto Quadrado, a procura pelas tiny houses aumentou no último ano com a pandemia do novo coronavírus. “Acredito que o isolamento despertou outros interesses nas pessoas. Depois do choque inicial nós voltamos para o essencial, buscando uma experiência mais intimista, mais conectada com a natureza e mais consciente”, disse.
Além da escolha de moradia mais consciente e intimista, o movimento também promove economia financeira. Para a construção de uma tiny house em território nacional, Camilla estima um investimento de R$ 2 mil a cada metro quadrado, sendo que a indicação de espaço para manter uma boa qualidade de vida é de 20 m² no total.
Em sua carreira, Camilla projetou e executou a primeira Mini Mod do escritório MAPA e, em 2019, construiu as “trigêmeas” Alpes São Chico, em São Francisco de Paula, no Rio Grande do Sul, que contou com aproximadamente 1,5 tonelada de aço em sua estrutura.
“O sistema construtivo em aço é muito efetivo para uma tiny house pela incrível combinação de rapidez e versatilidade. O material pode ser usado na estrutura, nas esquadrias, nos revestimentos e fechamentos”, explica a arquiteta.
De acordo com o Centro Brasileiro da Construção em Aço, o material pode garantir uma construção mais limpa se comparado a outros materiais. Isso acontece porque as construções modulares são desenvolvidas industrialmente e reduzem os impactos ambientais característicos da construção convencional, principalmente no que tange ao desperdício.
O conceito da construção da tiny house é semelhante ao da construção industrializada em aço: peças ou blocos que já vêm montados da indústria. No caso da tiny house, a própria casa.
“Basicamente, é necessário que tenhamos uma base e instalação de água e luz. A construção de uma tiny house pode durar, em média, 10 dias apenas”, completou a arquiteta.
Além das casas fixas em plataformas ou terrenos, também há a possibilidade de investimento em uma tiny house móvel. A primeira casa minimalista brasileira capaz de ser movida a qualquer lugar foi regulamentada e homologada pelo Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) em dezembro de 2020.
Mudança de vida
Para o casal Robson Lunardi e Isabel Albornoz, o movimento trouxe liberdade das dívidas e do financiamento imobiliário, autonomia geográfica, além da mudança de profissão e hábitos de vida.
“Hoje temos maior convivência familiar, muito mais contato com a natureza, mais qualidade de vida, a possibilidade de trabalhar de casa vendo nosso filho crescer e se desenvolver, além do menor custo de vida e muito menos tempo dedicado à limpeza, organização e manutenção da casa”, contou Isabel.
A ideia surgiu para a família após os dois serem diagnosticados com Síndrome de Burnout (estresse extremo relacionado ao trabalho). Por recomendação médica, eles iniciaram a prática de yoga e de meditação e passaram a refletir sobre o quanto a casa própria, na época com 167 m², tomava tempo e dinheiro pelo alto custo de manutenção e do financiamento imobiliário.
Pioneiros do movimento no Brasil, a família estudou por dois anos qual seria a melhor estrutura que valorizasse seus objetivos de uso e optou pelo steel frame devido a sua leveza e, ao mesmo tempo, resistência. No total, foram utilizados 500 kg de aço para a construção da casa sobre rodas. O investimento final da obra está avaliado em R$ 170 mil.
“Agora, com o documento em mãos e a placa instalada poderemos começar a viajar. Nossos planos são de fazer interior e litoral dos estados de São Paulo e Rio de Janeiro, interior de Minas Gerais e descer até o Rio Grande do Sul na fronteira com Uruguai”, disse Isabel.
Para compartilhar as mudanças no estilo de vida e inspirar outras pessoas, a família compartilha informações e experiências sobre o movimento nas redes sociais e no site próprio denominado Pés Descalços.
Ciclovivo