Assim como diversos setores da economia brasileira, o agronegócio também sente os reflexos da escassez de contêineres e navios para escoar a produção. O desarranjo nas cadeias globais e a retomada da demanda em grandes portos exportadores do mundo ajudam a explicar a situação que afeta a distribuição de café, carnes, grãos e insumos.
Logística de safras
Café: a menor disponibilidade de contêineres, a falta de navios e os cancelamentos de bookings continuam sendo entraves nas exportações de café. “Os terminais continuam abarrotados de cargas ainda aguardando por embarques”, afirmou o diretor técnico do Conselho Nacional dos Exportadores de Café do Brasil, Eduardo Heron.
Carnes: há impacto também no setor de aves, suínos e ovos, por exemplo. As indústrias estão trabalhando com estoques de uma semana, o que aumenta o custo para armazenagem. Segundo José Perboyre, coordenador do grupo logístico da Associação Brasileira de Proteína Animal, com o “desequilíbrio na oferta e na demanda, a carga para a Ásia aumentou cinco vezes de preço”.
Grãos: a preocupação logística está atrelada à lentidão na comercialização antecipada da próxima safra. Entre os cooperados da Coamo, a maior cooperativa agroindustrial da América Latina, o índice de venda futura está em 10% ante a faixa de 40% a 60% em anos anteriores. “Quando há comercialização futura mais acelerada é melhor para quem faz logística. A falta de apetite pelo contrato futuro deixa uma interrogação na logística”, avalia Airton Galinari, presidente-executivo Coamo.
Distribuição de fertilizantes e insumos
O Brasil é dependente da importação de fertilizantes e defensivos, insumos básicos para o agronegócio. Entre alguns agricultores, há o temor de falta de insumos. Na visão da Coamo, não devem faltar fertilizantes, mas os preços serão elevados. Já no caso de herbicidas, o presidente da cooperativa relata que “há falta de dessecantes e também há problema de preço” pela demanda elevada. “Não tem um fator positivo acenando para este mercado”, conclui.
Fretes
Frete rodoviário: para este ano, a Esalq/Log não espera um preço de frete rodoviário tão elevado quanto em 2021. No caso específico dos fertilizantes – considerado como frete de retorno – há perspectivas de valores menores por conta da “oferta maior de caminhões nas regiões portuárias”, informa o Coordenador do Grupo Esalq-Log, Thiago Péra.
Frete marítimo: o quadro ainda é de continuidade de incertezas ao longo deste ano. Porém, há expectativa de um leve alívio a partir do 2º semestre, influenciado pela alta da inflação em grandes economias globais, que pode “frear um pouco o comércio internacional, reduzindo a demanda de contêineres e trazendo um arrefecimento nos níveis de preços”, explica Thiago Péra. Contudo, uma normalização da cadeia é esperada somente em 2023.
Petróleo
Para olhar o cenário futuro de frete é necessário avaliar as perspectivas de preços dos combustíveis, influenciadas pelo petróleo, que registrou a maior alta em sete anos nesta semana. A Markestrat Group projeta o barril no patamar de US$ 100, se confirmada a estimativa, haverá repasse ao valor dos fretes. “Qualquer aumento de petróleo vai ter impacto direto para a gente pensar na conversão dele para energia, seja diesel ou gasolina”, destaca José Carlos de Lima, sócio-diretor da consultoria. Além disso, com a elevação do preço do petróleo há expectativa também de alta no preço do milho, que é um commodity produtora de energia. “A gente tem uma tendência, entre outros grãos, de uma perspectiva de aumento de preço para milho e em soja, inicialmente, não de alta tão expressiva como no ano passado”, projeta.
Ferrovias
Está em vigor no Brasil um novo regime ferroviário, por autorização, onde empresas pedem ao governo permissão para construção de ferrovias. A iniciativa deve contribuir para a logística do país e do agronegócio. Fato é que o processo ainda pode demorar um pouco até que uma malha ferroviária seja finalizada, mas na visão da Markestrat Group, a partir dessa integração, em um intervalo de cinco anos, podemos ver resultados positivos e importantes para o agro.
Jovem Pan