Tendência: Saiba o que esperar do preço dos grãos e fertilizantes

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Os efeitos da quebra na safra brasileira de soja refletiram fortemente no mercado agrícola nesta semana, levando ao fechamento de negócios a R$ 200 por saca em Passo Fundo, no interior do Rio Grande do Sul, de acordo com a consultoria Somma.

O movimento de alta não ficou restrito ao Brasil. Na bolsa de Chicago, o contrato futuro da oleaginosa para março foi negociado acima de US$ 15,30 por bushel, um dos maiores valores já vistos. Outro fator de observação foi o recuo do dólar, que operou nas mínimas em quase cinco meses, e encostou nos R$ 5,25.

A moeda norte-americana é fator fundamental para o agronegócio, seja pelo impacto na formação de preços dos produtos agrícolas, seja pelo custo na importação de insumos. E tratando de insumos, o questionamento dos agricultores durante a semana foi: o preço dos fertilizantes seguirá o dólar e também cairá? Os assuntos foram debatidos por especialistas no Hora H do Agro deste sábado, 5.

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Projeções dólar

Antes da perspectiva de valores para fertilizantes, é importante entender o cenário futuro para o dólar, um dos pontos mais importantes na composição do preço dos adubos:

curto prazo: O recuo da moeda norte-americana nesta semana em específico esteve atrelado ao aumento da taxa básica de juros da economia brasileira (Selic), que subiu de 9,25% ao ano para 10,75% ao ano, após decisão do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom). Esse fator e a sinalização de novos aumentos da Selic devem continuar empurrando o dólar para baixo no curto prazo, de acordo com Pedro Ramos, economista-chefe do banco Sicredi, “a gente pode ver o câmbio a R$ 5,20 nas próximas semanas com muita facilidade”.

longo prazo: Entretanto, quando analisado um período mais longo, a expectativa é de alta do dólar diante do real. Assim, como projetado pelo mercado financeiro no relatório Focus, o Sicredi também acredita em uma taxa de câmbio a R$ 5,60 no fim deste ano, mas até lá, o cenário será de volatilidade, que pode se iniciar já no final do primeiro trimestre. Entre aspectos no radar estarão o risco fiscal diante de medidas em discussão no Congresso que sinalizam mais gastos do governo e as eleições para presidência da República.

Fertilizantes

Além da desvalorização do dólar, as incertezas geopolíticas mundiais se mantiveram no radar do mercado de fertilizantes:

Dólar x preços: Como o Brasil importa cerca de 80% de todo o fertilizante utilizado nas lavouras, qualquer movimento no dólar é acompanhado de perto, ou seja, “se o dólar cair, o fertilizante vai cair em reais”, conforme destacou Marcelo Mello, diretor de fertilizantes da SonteX. Entretanto, fatores externos que influenciam na formação de preços ainda não devem ser descartados, como o quadro de oferta e demanda crescente no mundo e a crise energética. O especialista prevê mais um ano de “alta volatilidade” para fertilizantes, principalmente para a ureia, já para o potássio não há chance de queda. “Acredito em alta de 10% no preço, isso em 2022″, afirma Marcelo.

Nitrato de amônio: No âmbito geopolítico, pesou a decisão do governo da Rússia de proibir as exportações de nitrato de amônio durante dois meses, vigorando de 2 de fevereiro até 1º de abril. A notícia levou apreensão aos mercados quanto ao risco de desabastecimento do adubo, principalmente aqui no Brasil, pois 98% do nitrato importado por nós tem a Rússia como fornecedor. A consultoria norte-americana StoneX diz que a “chance desabastecimento aumentou”, mas como no último ano houve um aumento no volume de importações, é possível que a indústria consiga atender a demanda, do contrário, eventualmente, os produtores “podem substituir nitrato por ureia”. Se essa substituição for necessária, a consultoria não acredita em elevação dos preços da ureia em decorrência de uma demanda um pouco maior.

Grãos

Consultorias privadas seguem fazendo cortes nas estimativas de produção para a soja e o milho na 1ª safra do Brasil, a menor oferta e a alta demanda mexem com os preços:

Soja: A valorização da commodity é esperada no mercado interno e externo, que precifica as quebras de safra, não só no Brasil, como em áreas da América do Sul. Nos próximos 40 dias, as atenções em Chicago ficarão voltadas ao real tamanho da quebra na Argentina, país que “tem uma importância fundamental na formação dos preços internacionais do farelo e do óleo de soja”, explica Paulo Molinari, analista da Safras&Mercado. Por aqui, a saca da oleaginosa também deve seguir movimento de alta, pois as exportações do grão permanecerão elevadas, com tradings – empresas comerciais – acelerando as vendas. Assim como no mês passado, fevereiro deve registrar volume recorde de exportação de soja, segundo as programações de navios. O resultado será preços em alta. “Aquele produtor que vendeu pouco, não tem porque não aproveitar e vender agora”, aconselha Molinari.

Milho: O mesmo cenário é desenhado para o milho neste primeiro semestre. Se somada a produção da 1ª safra do grão nos três estados do Sul do país, o volume “não chega a 10 milhões de toneladas”, o quadro é de oferta apertada e deve durar até a entrada da 2ª safra a partir do final de maio. De acordo com projeção da Safras&Mercado, os preços devem variar entre R$ 95 e R$ 115 por saca neste primeiro semestre, inclusive, a consultoria já verificou negócios a R$ 100 por saca no Sul do país. Enquanto isso, para o segundo semestre, com a entrada da safrinha, que “está sendo semeada muito bem”, a expectativa é de valores na faixa de R$ 83 nos portos. Isso se não houver algum problema de quebra nos Estados Unidos ou até mesmo aqui no Brasil, repetindo as perdas inesperadas do ano passado.

Jovem Pan