A seca no Paraná afetou o planejamento de agricultores familiares. Produtores que custeavam a safra com recursos próprios, chegaram no limite máximo em maio. O dinheiro acabou, as terras estão paradas e os bens penhorados com as revendas.
As dívidas da safrinha passada e da safra de verão da soja, ambas frustradas, venceram no dia 30 de abril para o agricultor Leopoldo Bernardi, que está na atividade há 35 anos.
Ele não conseguiu plantar a safrinha deste ano, e o recurso para o custeio, que é próprio, esgotou completamente. A propriedade dele, que fica em Querência do Norte, no noroeste do estado, ficou sem produzir nada pela primeira vez.
Os produtores pedem para o governo federal uma linha de crédito extraordinária para quitar estas dívidas e limpar o nome para seguir com o plantio das próximas safras.
“Nós somos uma classe que trabalha com recursos próprios, e nossas dívidas são com revendas particulares. Não conseguimos financiamento de banco, porque todos os nossos bens estão confiscados com as revendas. Ninguém consegue comprar insumo, porque as revendas não vão liberar, e já vamos para a terceira safra sem pagamento”, conta Bernardi.
O agricultor Tiago Machry também se descapitalizou com a seca no estado. Ele teve que vender alguns bovinos de corte para honrar as contas e não ficar inadimplente. Mas agora está preocupado com as dívidas de financiamento que começam a vencer no segundo semestr. Além disso, ele não se enquadra no prazo do programa de rebate de juros do governo federal, que acaba em 31 de julho.
“O período de estiagem foi de seis meses, mas isso vai refletir no ano todo. Para nós não vai resolver esse desconto. A gente vendeu alguns animais para conseguir cumprir com nossos compromissos porque, se não, a gente teria que ficar inadimplente com alguém. Daqui para frente agora tem que tentar um refinanciamento de alguma coisa para seguir o plantio na próxima safra”, diz o produtor.
Representante dos agricultores pede ajuda ao governo
A Federação dos Trabalhadores Rurais Agricultores Familiares do Paraná (Fetaep), emitiu um ofício ao ministro da Agricultura reportando essas dificuldades, já que essa parcela de agricultores não foi beneficiada pelo decreto 11.029 que propôs o desconto de 35,2% sobre o valor das operações de crédito contratadas no Pronaf.
O documento também pede a prorrogação do prazo dado para os municípios entrarem com pedido de declaração de calamidade ou emergência, já que várias prefeituras não conseguiram cumprir em tempo hábil a homologação do pedido. Segundo a entidade, a linha de crédito extraordinária, específica para essa classe, que administra a propriedade com recursos próprios, foi um compromisso assumido pelo governo federal na visita às regiões mais afetadas pela crise hídrica no estado.
“Foi um compromisso que a própria ministra Tereza Cristina assumiu de olhar por esses agricultores que não acessavam nem sequer recurso público. E o que está vindo até o momento é possibilidade de renegociação para quem já tem um Pronaf, para quem precisa pagar o banco, já pegou seguro, ou pegou Proagro, encontra-se em dificuldades e vai ter possibilidade de renegociar. Mas tem um público que até agora pra ele não chegou nada, são milhares de agricultores nos três estados do Sul”, diz o presidente da Fetaep, Marcos Brambilla.
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