Apesar de especialistas afirmarem que as hepatites estão em queda, e isso ser positivo, não podemos baixar a guarda. Toda vez que é noticiado um caso da doença, como a do zagueiro do Flamengo David Luiz, que teve a doença de forma leve, da triste morte da campeã de futsal Pietra Medeiros por hepatite autoimune, ficamos alertas. As hepatites virais são responsáveis pela morte de cerca de 1,4 milhão de pessoas anualmente no mundo. Há cinco variações – A, B, C, D e E. Na maioria dos casos, as infecções são assintomáticas, mas quando há sintomas, eles se manifestam como cansaço, febre, enjoo, vômitos, dor abdominal, urina escura e mal-estar. No Brasil, segundo especialistas, predominam os tipos A, B e C. Mas o problema é que identificar que os sintomas podem ser de hepatite não é tão simples. Ninguém pensa nela. A popular icterícia (a pele amarelada) acomete cerca de 10% dos pacientes já na fase aguda. “As hepatites virais estão estáveis no Brasil, mas falta aumentar a taxa de diagnósticos. Há prevenção e tratamento. Falta acesso ao diagnóstico. O Conselho Federal de Medicina recomenda que todos os adultos devem fazer, pelo menos, um teste de HIV, hepatites B e C, e sífilis na vida”, afirma o médico Paulo Abrão, professor de infectologia da Unifesp. Para ele, o diagnóstico rápido não é difícil. “Está disponível no SUS. O problema é que a maioria dos casos é assintomática e as pessoas não procuram o médico. Quando procuram, a doença está avançada. Daí a necessidade da pesquisa ser ativa e não baseada em sintomas”, explica o infectologista.
Tipos mais comuns no Brasil
No Brasil, os tipos A, B e C são os mais comuns, sendo o A o mais recorrente, tendo sua principal concentração no Norte e Nordeste (as regiões concentraram 55,7% dos casos entre 1999 e 2018). No mesmo período, o país registrou 233 mil casos da B e aproximadamente 360 mil da C. O vírus da hepatite D tem sua maior incidência na bacia amazônica e a E está mais presente na Ásia e na África. A hepatite A é considerada benigna com cura em praticamente 100% dos casos. Em casos raros, pode evoluir para um quadro fulminante letal ou necessidade de transplante por insuficiência hepática aguda. Já no caso da hepatite B, 90% dos pacientes da hepatite B têm cura espontânea. No caso da hepatite C, cerca de 85% das vezes os casos evoluem para cronificação. Somente 15% têm cura espontânea.
“As hepatites virais, principalmente as hepatites B e C, que podem evoluir para hepatite crônica, para cirrose e para o câncer de fígado são doenças que, nas fases iniciais, na maioria das vezes são assintomáticas e por isso muitas vezes o diagnóstico é mais tardio. Desse modo, recomenda-se o rastreamento da população adulta para esses vírus”, diz a médica Dora Gama Ribeiro Altikes, gastroenterologista do Hospital Santa Catarina – Paulista. Segundo o boletim epidemiológico da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde de julho de 2021, a incidência das hepatites virais, tanto Hepatite A, B e C vem em queda. Grande parte pela maior vacinação da população para Hepatite A e Hepatite B, além de uma maior eficácia no tratamento da Hepatite C.
Eu, Jaqueline, fui diagnosticada com hepatite A aguda em março deste ano. Meus sintomas iniciais confundiram com gripe, sinusite e até enxaqueca: dor de cabeça, enjoo, mal-estar, fadiga. Cheguei a procurar um serviço médico, 5 dias depois. Sem ser submetida a qualquer exame, recebi o diagnóstico de dor de cabeça tensional por estresse. Recebi medicamentos na veia – cortisona e remédio para enjoo – e fui para casa. Até me senti melhor, fui a uma festa no mesmo dia. Mas 24 horas depois, os sintomas voltaram e mais intensos. E 48 horas depois, estava eu de novo no mesmo serviço de saúde, mas desta vez o médico pediu um hemograma. E lá meu fígado indicou que algo ia muito errado. Internei horas depois. Foram 6 longos e terríveis dias hospitalizada. Tive a hepatite A aguda. Após a alta, ainda tive uma jornada de cuidados e exames, desta vez assistida pelo médico Paulo Abrão, a quem sou muito grata. Se você, que está lendo esse texto, permitir alguns conselhos, aqui estão: não ignore sintomas, procure um médico, e peça exames para um diagnóstico correto e vacine-se contra a hepatite.
Curtas
Enterogermina e UNICEF em prol da saúde em escolas públicas da Amazônia
A enterogermina, marca de Consumer Healthcare na Sanofi, acaba de anunciar uma parceria inédita com o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) no Brasil. A marca está apoiando a estratégia de Água, Higiene e Saneamento do UNICEF no Brasil, com foco em contribuir para um ano escolar mais saudável em escolas públicas em dois municípios da Amazônia: São Gabriel da Cachoeira e Manacapuru, beneficiando cerca de 4 mil crianças e adolescentes, além de 400 profissionais de Educação que serão capacitados em protocolos de higiene e saúde. Atualmente, mais de 300 mil crianças e adolescentes passam horas em escolas sem acesso adequado à água e a higiene básica, muitas vezes com água imprópria para consumo. Para atuar nessa frente, a ação prevê o fornecimento de estruturas de lavagens de mãos e itens de higiene e capacitação da equipe escolar em protocolos de prevenção de infecções e doenças, como a diarreia aguda.
73% das mortes nas grandes cidades estão ligadas aos maus hábitos de vida
Estudos apontam que 73% das mortes nas grandes cidades estão ligadas aos maus hábitos de vida. Foi pensando nesse cenário que os médicos Gilberto Ururahy e Galileu Assis escreveram o livro “Saúde É Prevenção”. Fundador da clínica Med-Rio Check-up, pioneira em check-up executivo no Brasil, Ururahy avalia que a pandemia impôs uma necessidade ainda maior de se falar em hábitos de vida saudáveis e prevenção. Ele relata que a clínica tem registrado índices preocupantes. Segundo dados, entre as 10 mil pessoas que realizaram check-up no primeiro semestre, 10% apresentam diabetes e 27% hipertensão. Também chamam atenção o sobrepeso em 75% dos clientes e a parcela com alta da taxa de colesterol (70%). Ururahy ainda alerta para o fato de 12% das pessoas apresentarem sinais de burnout. “Com livro, queremos ajudar a mudar esse panorama, mostrando que estilo de vida saudável somado aos exames preventivos é igual à longevidade com autonomia”, afirma.
Homens e o cuidado com a saúde
O médico Bruno Benigno, urologista e oncologista, chefe de Urologia do Centro de Oncologia e do Centro de Urologia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz (SP), alerta que os homens precisam cuidar mais da saúde, a fim de prevenir câncer de próstata e tumor de bexiga. Uma pesquisa feita pela Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) mostra que 55% dos homens entrevistados acima de 40 anos não marcam consultas ou tratamento médico. “Os homens procuram um urologista quando já têm sintomas, algum incômodo relacionado à doença, como sangramento na urina ou jato fraco ao urinar. Os dados da pesquisa trazem uma realidade já percebida: os homens não têm a mesma atenção com a saúde como as mulheres. Com esse retardo no diagnóstico precoce, existe o impacto no sucesso do tratamento, que pode ser prejudicado”, afirma Bruno Benigno. Ele reforça que boa parte das doenças urológicas mais graves são silenciosas.
Aliança que representa indústria da saúde leva propostas a candidatos
A Aliança Brasileira da Indústria Inovadora em Saúde lançou a Agenda Saúde 2022/2030 – Dispositivos Médicos, a fim de apresentar os desafios e propostas para o setor aos candidatos à Presidência da República e lideranças públicas. Entre as questões consideradas fundamentais pela Aliança são: recursos e políticas públicas para a consolidação de um Complexo Industrial da Saúde forte, moderno e representativo, independentemente da origem do capital; incentivo à pesquisa, à inovação e ao desenvolvimento de novos produtos e processos produtivos, incorporando de forma racional as novas tecnologias, em benefício da população; tratamento tributário diferenciado para a saúde, que proporcione a sustentabilidade do sistema, o acesso do paciente e o desenvolvimento econômico. “O Brasil tem uma capacidade de consumo muito grande, com 220 milhões de pessoas, o maior sistema de saúde público do mundo (SUS), além de um sistema privado bastante robusto. Trazemos 17 propostas para contribuir efetivamente com as equipes técnicas da área de Saúde das campanhas, para fomentar o setor, com impacto positivo imediato em infraestrutura e na própria economia, considerando o efeito positivo que se gera”, afirma o presidente do Conselho de Administração da ABIIS, Carlos Eduardo Gouvêa.
Inteligência Artificial aliada na redução de filas para mamografia
As longas filas para conseguir fazer uma mamografia, que chegam a ser marcadas dez meses depois da solicitação médica, poderão diminuir drasticamente graças a um novo equipamento que começa a ser testado em dois hospitais do Estado de São Paulo que atendem a pacientes do SUS. O novo aparelho tem como base um conjunto de termocâmaras que abastecem um sistema de Inteligência Artificial. O princípio do aparelho é o mesmo do reconhecimento facial, a comparação, em segundos, das informações referentes a um paciente com o banco de dados que armazena os registros de calor de diversos pontos do organismo de pacientes que comprovadamente são portadores de câncer de mama. A avaliação do metabolismo da mama busca áreas de anormalidade térmicas ou vasos anormais que geralmente estão presentes no câncer de mama. Em caso de coincidência das medições obtidas de um paciente com as informações armazenadas na Inteligência Artificial, o sistema emite um alerta para que o pré-diagnóstico seja confirmado por mamografia ou biópsia.
Além da grande velocidade com que, sem qualquer contato físico, o equipamento identifica casos suspeitos de câncer, o aparelho não causa o incômodo decorrente da pressão sobre os seios, reclamação de muitas que se submetem à mamografia. Os pesquisadores da Fundação Instituto Diagnóstico por Imagem – FIDI e da Predikta Tomografia Médica Dignóstica, que trabalham conjuntamente no projeto, estão se valendo da evolução da tecnologia conseguida com fins militares, para desenvolver um sistema para diagnosticar sinais precoces do câncer com um aparelho não invasivo e que sequer toca na pele da paciente. Em 2021, foram realizadas pelo SUS 1,6 milhão de mamografias na faixa de 50 a 69 anos, total bem aquém da necessidade brasileira.
A retomada dos procedimentos de reprodução humana
Os procedimentos de reprodução humana assistida (RHA) voltaram a crescer no Brasil. É o que indicam os dados do relatório mais recente do Sistema Nacional de Produção de Embriões (SisEmbrio), divulgado na segunda semana de agosto pelo Governo Federal. Um desses indicadores é o de fertilizações in vitro. Enquanto no ano de 2020 foram realizados 34.623 ciclos de fertilização no país, em 2021 este número saltou para 45.952. Além disso, em 2021, foram registrados 114.372 congelamentos (criopreservação) de embriões, enquanto no ano anterior foram 88.503 (aumento de 29%). Do total de congelamentos de 2021, quase 70 mil foram de mulheres com mais de 35 anos. “Tanto o controle da pandemia de Covid-19 quanto o momento social do Brasil têm favorecido a busca dos pacientes por tratamentos voltados à reprodução humana assistida. Em 2020, o sonho de muitos brasileiros de constituir família acabou represado, em suspenso. Já em 2021, com a vacina disponível, os tratamentos foram retomados, mantendo-se em 2022”, explica o médico. Rodrigo Camargo, CEO da Androlab.
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