Uma reforma de um apartamento no 27º andar localizado na zona sul de São Paulo transformou completamente uma cobertura árida e abandonada, trazendo o verde e o colorido de espécies nativas e criando um verdadeiro oásis nas alturas, em plena metrópole.
Tudo começou quando os proprietários do apartamento decidiram iniciar uma reforma pois estavam com problemas de infiltração e seria necessário refazer a impermeabilização da laje existente. Eles também queriam demolir a piscina que não usavam para criar um espaço de lazer.
“A cobertura estava praticamente sem uso, árida, quente e sem vida ou atrativos” disse o arquiteto urbanista e permacultor Fernando Sassioto, responsável pelo projeto.
Fernando enxergou ali diversas oportunidades de aplicações que iriam deixar a cobertura mais bonita e atrativa, como também torná-la mais sustentável.
A obra foi realizada com construção seca, desde a impermeabilização até as camadas do piso e jardim, que podem ser completamente desmontados e remontados em caso de manutenção, sem quebra nem desperdício de material. Neste caso, eles apoiaram o piso de concreto e madeira sobre sacos de areia, sem utilizar contrapiso.
Canteiros freáticos
Para trazer a vegetação e o verde para o local, o arquiteto optou pela instalação de canteiros freáticos autoirrigáveis ao longo do perímetro de toda a cobertura. Os canteiros (ou floreiras) freáticos possuem uma reserva abaixo do solo onde a água da chuva fica armazenada. As raízes das plantas conseguem alcançar o reservatório, garantindo a sua sub-irrigação constante.
A utilização deste sistema garante que as plantas recebam quantidades suficientes de água praticamente o ano todo, não sendo necessárias regas constantes. Além disso, as plantas têm mais chances de sobrevivência, já que cada espécie consome somente o necessário para se desenvolver.
Reuso de água e de materiais
O arquiteto também introduziu um sistema de captação e aproveitamento de água da chuva. A água captada é reutilizada nas descargas de vasos sanitários, irrigação das plantas e também na limpeza.
A água do chuveiro também é reutilizada para irrigar o gramado existente no jardim. Ela escoa por baixo de um deck de madeira construído com material reaproveitado da obra.
A cobertura ficou tão aconchegante e com ‘cara de quintal de casa’, que o casal de moradores decidiu alterar o projeto durante a reforma para fazer um Home Office e trabalhar ali.
Oásis da Mata Atlântica
A escolha das espécies de plantas para o paisagismo do jardim foi feita por Nik Sabey, do Novas Árvores por Aí. Entre as espécies arbustivas escolhidas estão o Guaimbê (Philodendron bipinnatifidum), Pariparoba (Pothomorphe umbellatum), Caapeba (Piper umbellatum) e a Maranta (Maranta leuconeura). “As espécies arbustivas ornamentais nativas com folhagens mais largas deram um aspecto tropical para o jardim”, disse Nik.
Ele explicou que devido à grande profundidade de alguns canteiros, foi possível até mesmo plantar árvores de espécies frutíferas nativas como a pitangueira, jabuticabeira, grumixameira e cerejeira-do-rio-grande.
Para atrair os pássaros, insetos e dar cor ao jardim, o paisagista escolheu flores também nativas como a Trialis (Galphimia brasiliensis), Calliandra e Orelha-de-onça (Tibouchina heteromalla).
Em um dos trechos do canteiro foi criada uma horta com diversas espécies comestíveis. O projeto contou também com um pequeno lago com plantas aquáticas, trazendo o elemento água ao local.
Visita ilustre
O sucesso do jardim foi tão grande que as plantas nativas estão atraindo diversos pássaros da fauna da região, os moradores capturaram até mesmo um tucano visitando o local.
Cobertura verde
Para quem tem uma laje ou cobertura e gostaria de fazer algo semelhante, o arquiteto recomenda sempre analisar a estrutura existente e contar com um profissional para fazer os cálculos das cargas. Outra coisa que ele aconselha é sempre prever um sistema de impermeabilização e drenagem das águas da chuva e dos canteiros.
Ciclo Vivo