O parlamento europeu aprovou há uma semana uma nova lei que exige que alimentos vendidos na União Europeia não sejam originados de terras desmatadas após dezembro de 2019, mesmo que a supressão de vegetação tenha sido feita legalmente, ou seja, mesmo que esteja em conformidade com as regras ambientais do país fornecedor, ainda assim não entrará no continente o café, a soja, a carne e outros produtos que tenham essa característica. A medida evidencia o avanço da agenda verde europeia, ainda que em um momento de crise alimentar global. A consequência desse protecionismo comercial deverá ser sentida pelos consumidores, que verão o preço da comida aumentar no Velho Continente. Uma estimativa preliminar feita pela Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais apontou que cada tonelada de soja embarcada do Brasil para a Europa custará cerca de U$ 40 a mais a partir do momento que os novos padrões entrarem em vigor com o controle de origem. Haverá ainda uma perda de eficiência logística, já que para a segregação do produto serão necessários armazéns, caminhões e navios específicos. Caberá às empresas e agricultores brasileiros avaliarem se há interesse em se adequar às novas exigências para atender esse mercado. Hoje, 8% da soja brasileira se destina à Europa.
A decisão do parlamento europeu de proibir no bloco produtos vindos de área de desmatamento recente no mundo vai encarecer a comida para os consumidores de lá, como já falamos. E o que mais poderá acontecer, por exemplo, com o agro do Brasil? 1) Vão ser necessárias adequações na logística e na rastreabilidade de origem para os que continuarão a vender para a União Europeia. 2) Precisaremos monitorar o efeito da política do Green Deal em outros países, já que muitas vezes eles imitam a agenda da Europa. Se houver uma replicação do modelo, isso pode virar um problema, principalmente para as novas fronteiras agrícolas assegurarem mercados para os produtos vindos de desmate legal recente, especialmente porque muitas multinacionais têm adotado política de desmatamento zero na cadeia de suprimentos.
A agenda da produção e preservação é a agenda do agro do Brasil e ela precisa ganhar fôlego para melhorar também a nossa reputação no mercado externo. Hoje, 66% do território nacional é formado por florestas, um dos mais altos percentuais da biodiversidade do mundo está aqui no nosso país. Ao mesmo tempo, o agro brasileiro é um fornecedor confiável de comida e o mundo vive uma crise alimentar, o que significa que o setor continuará com destaque no cenário global. Sobre a nova lei europeia, a expectativa é que após a aprovação no parlamento europeu haja um tempo de transição até a medida entrar em vigor. Diferentes fontes me disseram que isso deve ocorrer a partir de 2024. Até lá, o Brasil seguirá vendendo para os mais de 200 mercados do mundo, assim como aprimorando as boas práticas de sustentabilidade ambiental e produção agrícola.
Jovem Pan