Seis em cada dez famílias já atrasaram ou deixaram de vacinar seus filhos. Entre os principais fatores que dificultam a imunização infantil adequada está a dificuldade de lembrar as datas corretas (50); falta de tempo diante das demandas da rotina familiar (38%); distância da residência para a unidade de saúde (35%); dificuldade em gerenciar a carteira de vacinação ou terem perdido o documento (25%). Os dados são do levantamento Escola, Uma Aliada da Vacinação Infantil, conduzida pelo Instituto Locomotiva a pedido da farmacêutica Pfizer. A pesquisa ouviu 2.000 mães de crianças e adolescentes de até 15 anos por todo o país. Na maioria dos casos, são as mães que levam as crianças para se vacinarem no Brasil. Falta tempo e suporte para as mães. A pesquisa ainda apontou a desinformação como uma ameaça à proteção das crianças: 68% das mães já se sentiram confusas sobre a imunização dos filhos; apenas 24% consideram elevado o próprio nível de informação sobre vacinas.
Segundo Renato Meirelles, presidente do Instituto Locomotiva, qualquer ação que melhore o processo para a mãe levar a criança para a vacinação tem grande potencial de aumentar a cobertura vacinal no Brasil: “Esse número nos aponta uma realidade bastante interessante, que o resto da pesquisa vai aprofundar, sobre a necessidade de aumentar os postos de vacinação. Um dado que talvez nem todos saibam, apontado pelo último censo da educação é que nós temos mais de 170 mil escolas públicas de ensino básico, o que poderia ser uma oportunidade muito forte para aumentar os pontos de vacinação”. Na avaliação dele, a pesquisa deixa claro que a escola pode ser uma aliada para reverter o cenário, já que é considerada um ambiente seguro pelas famílias e que ajuda nos lembretes de datas importantes como os feriados. “São as escolas que se tornaram a referência moral dentro das famílias. Vamos lembras as campanhas de falta de luz, por exemplo. Era as crianças que saiam acendendo e apagando as luzes. Cinto de segurança. Quantas aprenderam a escovar os dentes dentro das escolas?”, questionou Meirelles.
Nos últimos cinco anos houve um decréscimo da cobertura vacinal de crianças no país, problema que foi potencializado pela pandemia da Covid-19. Em 2022, alguns dos principais imunizantes do calendário infantil tiveram menos de 70% de cobertura, o que possibilita a reintrodução na sociedade de doenças que já estavam erradicadas. O presidente do Instituto de Imunologia da Sociedade Brasileira de Pediatria, Renato Kfouri, também participou do evento de apresentação dos dados nesta quarta-feira, 19, e explicou que a redução da cobertura não é um fenômeno exclusivo do público infantil, mas também presente na adolescência e até durante as campanhas. “O grande fator de motivação ou desmotivação da vacinação se relaciona com o próprio sucesso das vacinas. As vacinas fazem tanto sucesso, eliminam doenças, e as pessoas começam a se questionar ‘para que me vacinar se eu não convivo mais com essas doenças e as vacinas podem dar reações e podem deixar meu bebê enjoadinho?’. Esse é um dos fatores principais”, disse Kfouri.
As dificuldades encontradas pelas mães no dia a dia, variam de acordo com a classe social. Para o infectologista Renato Kfouri é também tornar a cobertura homogênea na sociedade, não apenas em determinados grupos: “A gente precisa de múltiplas saídas, porque o que realmente faz alguém não se vacinar na Bahia, no Pará, não é o mesmo que no interior do Rio Grande do Sul, em São Paulo e outros lugares”. Durante a apresentação dos dados, a diretora médica da Pfizer Brasil, Adriana Ribeiro, reforçou que a empresa tem voltado seus esforços pela busca de soluções para a desinformação e a dificuldades de acesso e que realizou campanha de vacinação em parceria com a Sociedade Brasileira de Pediatria e com a Unicef.
*Com informações da repórter Soraya Lauand – Jovem Pan