Ata do Copom indica que membros divergem sobre redução da taxa de juros e que cortes dependem da inflação

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O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central divulgou nesta terça-feira, 27, sua ata oficial após decidir manter a taxa básica de juros em 13,75% ao ano pela sétima vez consecutiva. Este é o período mais longo no qual ela esteve estacionada desde junho de 2019, quando a Selic foi mantida em 6,50% por 10 reuniões, ou quase um ano. Especialistas do mercado já esperavam que a taxa fosse mantida. Contudo, o comunicado trouxe uma mudança importante no tom adotado pelos membros, que foi mais moderado na avaliação dos analistas. No texto da ata, que detalha mais profundamente a visão do comitê, o grupo indicou a possibilidade de uma breve em baixa. Contudo, isso depende de como a inflação irá se comportar até agosto, quando será realizada a próxima reunião. “Comitê avalia que a conjuntura demanda paciência e serenidade na condução da política monetária e relembra que os passos futuros da política monetária dependerão da evolução da dinâmica inflacionária, em especial dos componentes mais sensíveis à política monetária e à atividade econômica, das expectativas de inflação, em particular as de maior prazo, de suas projeções de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos”, escreveu o grupo.

Além disso, o comitê avaliou que o ambiente externo se manteve adverso, apesar da atenuação do estresse envolvendo bancos nos EUA e na Europa. No âmbito doméstico, os membros do Copom avaliaram que o conjunto de indicadores recentes sugere um cenário de desaceleração gradual. “A divulgação do PIB referente ao primeiro trimestre de 2023 surpreendeu positivamente, com grande parte da contribuição de tal surpresa no desempenho da agropecuária, porém com menor dinamismo nos setores mais cíclicos da economia. O mercado de trabalho, que surpreendeu positivamente ao longo de 2022, tem apresentado certa resiliência, com aumento líquido nos postos de trabalho e relativa estabilidade na taxa de desemprego. Observou-se, entretanto, redução na taxa de participação. A inflação ao consumidor se reduziu no período recente, com destaque para as dinâmicas em bens industriais e alimentos. Os componentes mais sensíveis ao ciclo econômico e à política monetária, que apresentam maior inércia inflacionária, apresentaram uma incipiente melhora, mas mantêm-se acima do intervalo compatível com o cumprimento da meta para a inflação. As expectativas de inflação para 2023 e 2024 apuradas pela pesquisa recuaram e encontram-se em torno de 5,1% e 4,0%, respectivamente”, indicou.

O Comitê também optou por elevar a estimativa de taxa de juros real neutra de 4,0% a.a. para 4,5%. Os membros avaliaram os diferentes fatores que justificam uma elevação e convergiram na conclusão de que houve uma elevação da taxa neutra. Dentre os fatores citados que apoiam a elevação da taxa neutra, citou-se uma possível elevação das taxas de juros neutras nas principais economias, a resiliência na atividade brasileira concomitante a um processo desinflacionário lento, assim como a análise de modelos auxiliares que incorporam diferentes metodologias. “O Comitê avalia que a conjuntura internacional se mostra um pouco mais benigna para o processo inflacionário no Brasil, mas o baixo grau de ociosidade do mercado de trabalho em algumas economias e a inflação corrente persistentemente elevada e disseminada no setor de serviços sugerem que pressões inflacionárias devem demorar a se dissipar. No entanto, foram elencados alguns fatores que podem reduzir as pressões inflacionárias externas. Dentre esses, em primeiro lugar, destaca-se a determinação dos bancos centrais com o controle da inflação, através da manutenção do aperto de condições financeiras por período mais prolongado”, avaliou o comitê.

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O grupo debateu os dados recentes do mercado de trabalho. “Por um lado, os dados de emprego formal demonstraram continuidade no aumento do emprego no período mais recente. Por outro lado, nota-se que a taxa de desemprego se mantém relativamente estável, mas com menor taxa de participação em relação ao período pré- pandemia”, observou. Além disso, os membros discutiram os impactos do cenário fiscal sobre a inflação e avaliaram que a apresentação e a tramitação do arcabouço fiscal reduziram substancialmente a incerteza em torno do risco fiscal. “Permanecem desafios para o cumprimento das metas estipuladas para o resultado primário, ainda que, na discussão do Comitê, tenha se enfatizado o comprometimento e a apresentação de medidas para a consecução de tais resultados. O Copom novamente enfatizou que não há relação mecânica entre a convergência de inflação e a aprovação do arcabouço fiscal, uma vez que a trajetória de inflação segue condicional à reação das expectativas de inflação e das condições financeiras”, complementou.

Por fim, o Comitê unanimemente avaliou que flexibilizações do grau de aperto monetário exigem confiança na trajetória do processo de desinflação, uma vez que flexibilizações prematuras podem ensejar reacelerações do processo inflacionário e, consequentemente, levar a uma reversão do próprio processo de relaxamento monetário. “A materialização desse tipo de cenário pode impactar negativamente não apenas a credibilidade da política monetária, mas também as condições financeiras. Nesse debate, observou-se divergência no Comitê em torno do grau de sinalização em relação aos próximos passos”, indicaram. Entretanto, os membros do Comitê foram unânimes em concordar que os passos futuros da política monetária dependerão da evolução da dinâmica inflacionária, em especial dos componentes mais sensíveis à política monetária e à atividade econômica, das expectativas de inflação, em particular as de maior prazo, de suas projeções de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos.

A decisão do colegiado ocorreu na última quarta-feira, 21, seguindo a expectativa do mercado. Os avanços econômicos conquistados desde a última reunião, como melhora nas perspectivas de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) e na avaliação de risco de investimento do país, e a pressão do governo não foram suficientes para convencer a autoridade monetária a baixar a Selic. Economistas já previam que o BC só iria começar o processo de queda da taxa de juros a partir de agosto. No comunicado, o grupo voltou a reforçar a necessidade de cautela na condução da política monetária e que um período prolongado de manutenção da taxa tem se mostrado eficaz para garantir a convergência da inflação.

Jovem Pan