O Brasil, gigante do agronegócio mundial, registrou a maior importação de leite em pelo menos 20 anos. Apesar de ter uma das principais produções da América do Sul, o país sofre grande concorrência com o produto vindo do Mercosul, que muitas vezes chega aqui mais barato. A consequência em 2023 foi uma inundação de leite no mercado brasileiro, com mais de 2,1 bilhões de litros importados entre janeiro e dezembro, alta de 68% em comparação com 2022, de acordo com dados do MDIC (Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços) organizados pela Embrapa. Entre os países do bloco, a Argentina liderou as vendas para o Brasil, seguido por Uruguai e Paraguai. Agora em 2024, os argentinos suspenderam as “retenciones” (taxas que incidem sobre o leite) para favorecer ainda mais a competitividade do seu produto. A medida vale até junho deste ano. Desafio adicional ao agro do Brasil.
O presidente da bancada do agro no Congresso, deputado Pedro Lupion, já disse que a única solução para a crise do leite é impor barreiras ao produto que vem do Mercosul. Já a Câmara de Comércio Exterior (Camex) afirmou que, pelas regras do acordo comercial, não se pode aplicar tarifa ao leite vindo de países do bloco, mas há proteção para países de fora, que pode chegar a 35%. Ou seja, enquanto o leite do Mercosul tiver preço mais competitivo e oferta exportável, ele continuará sendo opção para a indústria brasileira. Dados da Scot Consultoria apontam que o leite importado custou 34% menos que o nacional em 2023. Um desafio para a classe de produtores brasileiros, que viu o preço do leite despencar e não cobrir custos de produção, aumentando a crise e o ímpeto para abandonar a atividade.
O governo Lula publicou um decreto federal com benefício tributário para a indústria que comprar leite brasileiro. A nova regra passa a valer agora em fevereiro. É uma medida paliativa em meio aos grandes desafios que envolvem pedidos de ajuda para reestruturação de dívidas e imposição de cotas para limitar a entrada de produtos do Mercosul. A cada nova crise no setor leiteiro fica mais claro que o futuro terá menos produtores e mais concentração da atividade via fusões e aquisições.
Jovem Pan