O produtor rural Moacir Guarnieri plantou sua lavoura de milho entre os dias 28 e 29 de dezembro em Boa Esperança do Norte no Mato Grosso e está travando uma batalha contra os percevejos. As áreas plantadas mais tarde até conseguiram escapar dos insetos, mas essas primeiras lavouras semeadas já passaram por 7 aplicações de inseticidas.
“Agora não tem mais percevejo, mas deu trabalho, fizemos 7 aplicações aqui e estragou algumas áreas. Agora estamos entrando com a segunda aplicação de fungicida e um biológico para lagarta, temos alguma coisa de lagarta do cartucho aparecendo”, diz Guarnieri.
O Técnico Agrícola da Casa da Lavoura de Dourados, Antônio Rodrigues Neto, conta que a região de Laguna Carapã no Mato Grosso do Sul também já presencia ataque de pragas nas lavouras de milho de segunda safra. Por lá, cigarrinhas e percevejos já são encontrados em grande número e as lagartas aparecem pontualmente.
“Estamos com problema de percevejos, especialmente o barriga verde, que estão atuando quando o milho está com 10 ou 12 dias e já temos que fazer aplicações de defensivos, tem áreas que já foram feitas duas aplicações e vão para a terceira. Temos milhos com 1 palmo e meio de altura onde a cigarrinha já está atuando também. Além disso, tem áreas com a lagarta atuando, mas como o nível de controle de alguns milhos são bons ela acaba morrendo, mas em algumas variedades ela está se mantendo e prejudicando um pouco o milho”, relata Rodrigues Neto.
Por outro lado, algumas regiões ainda não enfrentam esse tipo de problemas. Em Marechal Cândido Rondon no Paraná, por exemplo, com mais de 90% da área de milho segunda safra já semeada as lavouras ainda não apresentam pressão de pragas como cigarrinha e percevejo, conforme contou o Presidente do Sindicato Rural do município, Edio Luiz Chapla.
“Esse cenário, em relação a outros anos, está um pouco mais calmo. Nós não temos uma alta infestação de pragas tanto o percevejo barriga verde como também a cigarrinha. Estamos monitorando as áreas que foram plantadas, mas a pressão não está tão alta como em outros anos”, relata Chapla.
A Pesquisadora da Embrapa Milho e Sorgo, Simone Martins Mendes, e a Entomologista da Fundação MT, Lúcia Vivan, avaliam que as condições climáticas para a infestação de pragas nesta safra de milho são maiores do que o registrado na temporada passada, por exemplo.
“Essa safra tem uma condição bem mais seca do que a safra anterior, podemos ter infestações altas. Com isso a importância de realizar o manejo adequado é muito alta”, diz Vivan.
Já Mendes, além de citar as características de clima como umidade e temperaturas elevadas, destaca que os trabalhos de controle das plantas de milho tiguera não foi efetuado como deveria ter sido, o que também aumenta a probabilidade de infestações.
“O manejo de milho tiguera foi mal-feito em muitas regiões, está comum encontrarmos muitas plantas de milho no meio das lavouras de soja e essa é a principal condição para a permanência de pragas como a cigarrinha em campo. Houve crescimento das populações na primeira safra e se cresceu muito na primeira a pressão também será grande na segunda safra”, afirma.
CIGARRINHA
Com a largada da safra já sob intensa pressão da presença de cigarrinhas em campo, a pesquisadora da Embrapa destaca pontos essenciais de atenção ao produtor pensando neste controle, como escolha de híbridos com maior tolerância aos enfezamentos e o tratamento de sementes.
“Vindo de uma safra onde foi negligenciado o controle do milho tiguera, a primeira coisa a se fazer é procurar um híbrido mais tolerante, quem tiver híbridos menos tolerantes já vai sair perdendo. A mesma coisa com o tratamento de sementes com inseticidas que realmente peguem a cigarrinha”, explica Mendes.
Lúcia Vivan ressalta também a importância do monitoramento das lavouras, já que as cigarrinhas são insetos ágeis e que se deslocam muito de um lado para o outro, propiciando reinfestações nas lavouras.
“Podemos ter um problema de cigarrinha maior do que nas safras anteriores, então são necessárias aplicações nos estágios iniciais v1 e v2, continuando até v8, dependendo de cada região e como está a pressão”, diz.
Essa necessidade de controle cedo, também foi elencado por Simone Mendes. “Quanto mais cedo a cigarrinha infecta a planta, mais problemas ela terá. Detectando a presença do inseto na lavoura já se deve entrar com inseticidas químicos ou biológicos e o controle deve ser feito até a fase v9”.
PERCEVEJOS
A população de percevejos já vem alta da safra de soja e acaba migrando para o milho na sequência, como conta a pesquisadora da Embrapa. “Se o manejo não foi bem-feito na soja terá problema no milho também”.
Mendes comenta da importância do tratamento de sementes e do monitoramento da área para entrar com as aplicações de inseticidas, também na fase mais iniciais do desenvolvimento da planta. “O percevejo se alimenta da planta e como ela está muito pequena não resiste à toxina injetada, que depois vai suprimir a planta e impedir que ela produza. A preocupação precisa ir até as fases de v4 e v5, depois que a planta cresce, ela já consegue sozinha se defender da toxina injetada pelo percevejo, então mesmo que se veja percevejos nas lavouras, não há mais problemas”.
A entomologista da Fundação MT destaca ainda que, muitos produtos utilizados no controle da cigarrinha são os mesmos utilizados no combate aos percevejos, então esses controles acabam sendo realizados ao mesmo tempo pelos produtores.
LAGARTAS
Na visão de Mendes, toda safra de milho vai ter a presença de lagartas do cartucho, por isso é fundamental o monitoramento semanal das lavouras.
“Quando o produtor identificar 20% de plantas com folhas comidas ele precisa entrar com inseticida, sejam químicos ou biológicos, que hoje têm opções muito eficientes. Esse controle também precisa ser efetuado até a fase de v9, depois dessa fase as lagartas param de ser um problema”, conta a pesquisadora.
Em uma safra de margens apertadas e produtores pensando em reduzir custos e investimentos, Simone Mendes destaca a importância de não reduzir esses gastos do setor de defesa das lavouras e também ter um cuidado especial com a nutrição das plantas.
“Vai ter que reduzir investimentos, mas deve-se evitar reduzir itens que dão proteção contra as pragas. Cuidando bem da lavoura com relação a essas três pragas (cigarrinha, percevejo e lagarta) já se tem um horizonte bem definido. Além disso, uma lavoura bem cuidada, nutrida e saudável terá mais condições para enfrentar essas pragas, com mais resistência para não ter problemas”, alerta a pesquisadora da Embrapa.
Por: Guilherme Dorigatti – Fonte: Notícias Agrícolas