IPCC diz que agro pode ajudar a reverter mudanças climáticas

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A terceira e última parte do relatório divulgado pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) nesta segunda-feira (4) trouxe diversos alertas importantes sobre o combate ao aquecimento global. E o Planeta Campo conversou com Mercedes Bustamante, que é cientista relatora da entidade, para discutir as principais conclusões do documento e entender como o agronegócio pode contribuir com a sustentabilidade do planeta.

“Apesar da velocidade de aumento das emissões estar desacelerando, a gente continua emitindo mais do que deveria para se manter na rota estabelecida pelo acordo de Paris, que é limitar o aquecimento em 1,5°C”, ressaltou ela.

Mercedes também explicou quais as implicações do aumento na temperatura da Terra. “Passar de 1,5°C para 2°C já significa aumentar a frequência e a intensidade dos eventos extremos. Então a gente viveu nos últimos dois anos no Brasil uma seca extrema e, infelizmente, estamos observando nesse verão também episódios de chuvas muito fortes e concentradas, que já são respostas também a esse aquecimento”.

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Ela acrescentou, ainda, que ultrapassar a temperatura de 1,5°C significa aumentar os riscos para nossa biodiversidade e para os nossos ecossistemas e que isso pode ocasionar uma série de riscos muito maiores, inclusive para a produção de alimentos.

O relatório aponta que as emissões dos gases de efeito estufa (GEE) em todo o mundo precisam atingir o pico até 2025, além de serem reduzidas em 43% até 2030, para que tenhamos a possibilidade de estabilizar o aquecimento global em 1,5°C. Caso as políticas públicas atuais não sejam realinhadas, há a possibilidade de aumento da temperatura da Terra em 3,2°C até o fim do século. Sendo assim, “é muito importante a mensagem que esse relatório coloca, que hoje todos os setores, todas as regiões, vão precisar contribuir para a gente ter essa meta muito ambiciosa, essa janela de três anos para reduzir quase pela metade as nossas emissões”, explicou a cientista.

Contribuições do agronegócio

Mercedes Bustamante ressaltou o importante papel do agronegócio para fazer o sequestro de carbono e ainda contribuir com a substituição dos combustíveis fósseis ao fornecer a matéria-prima para a produção de energia e combustíveis renováveis.

“O setor de agricultura, florestas e outros usos da terra, representa 22% das emissões globais de gases de efeito estufa, ele tem um enorme potencial de reduzir as emissões. Ele pode não só deixar de emitir como auxiliar no sequestro de carbono. E o setor tem ainda uma contribuição importante substituindo materiais em outros setores, materiais que são intensivos em carbono.Então, por exemplo, se a gente deixar de utilizar cimento na construção e substituir por madeira, isso vai ser produzido através da agricultura. Se a gente substituir a química com base em combustíveis fósseis, vamos substituir por uma química verde e de onde é que vai vir essa biomassa? Então o setor tem essa contribuição em três frentes: reduzir as emissões, aumentar o sequestro de carbono e apoiar a substituição de materiais intensivos em gases de efeito estufa em outros setores da economia”, afirmou.

Por fim, Bustamante ressaltou que o enfrentamento às mudanças climáticas precisa ser realizado em conjunto por todos os setores. “Hoje está muito claro que a questão da mudança climática não é mais só um nicho da área ambiental, ela perpassa todos os setores da economia e uma das grandes barreiras para a gente implementar as medidas que a gente necessita é precisamente a questão da governança. Como é que governo, sociedade civil e setor público vão trabalhar para atingir esse objetivo comum? Então a política, nesse caso, no seu sentido mais amplo, mais digno, é quem tem traçado esse caminho para que a gente encontre uma solução que ajude a reduzir a pobreza, ajude a reduzir a desigualdade e a proteger os mais vulneráveis”, concluiu a cientista do IPCC.

Canal Rural