Abertura de novas empresas cresce no primeiro semestre de 2022 em relação ao período pré-pandemia

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O saldo de abertura de novas empresas no Estado de São Paulo teve crescimento no primeiro semestre de 2022: 150,4 mil empreendimentos foram abertos e 62,6 mil fecharam as portas, resultando em 87,8 mil negócios a mais. O número é 68% superior ao mesmo período de 2019, quando 52,2 mil negócios foram iniciados nos primeiros seis meses daquele ano, no período pré-pandemia, de acordo com dados da Junta Comercial do Estado de São Paulo (Jucesp). As razões para esse aumento podem ser tanto por necessidade, com os problemas trazidos pela Covid-19 para a população, quanto por uma janela de oportunidade para quem deseja negociar produtos. Os novos empresários têm que lidar com diversas dificuldades, desde as mais comuns a essa fase do negócio, como encontrar novos clientes, até outras trazidas pela situação econômica brasileira, como a inflação.

Um exemplo disso é a Portô Portér, escola de circo criada por Cesar Fabiano Lopes, que também produz equipamentos para exercícios físicos inspirados nos movimentos circenses. Lopes estudou no Centro de Inovação, Empreendedorismo e Tecnologia (Cietec) da USP, e abriu o CNPJ da empresa em abril de 2022, para poder franquear a escola e a metodologia para outros locais. “A empresa cresceu, amadureceu todos os processos, de produção dos equipamentos, recepção dos alunos, tem se estruturado cada dia mais. Acreditamos que isso será uma boa base para conseguir novos clientes”, explicou o empresário sobre o momento atual. No entanto, ainda não há franquias da Portô Portér, e a prospecção continua em busca de possíveis interessados, principalmente por meio das redes sociais. “O apoio que a gente tem é acreditar no projeto, e queremos que ele seja mais acessível, porque é um projeto educacional, uma atividade formativa. A educação física é a mãe desse projeto, e o circo é a magia, o espírito da brincadeira que envolve o treinar, o brincar, o praticar, o se desenvolver.”

Outro caso é a Lilicado, marca de doces funcionais, mais saudáveis que os comuns por conterem menos produtos industrializados e sem excesso de açúcar. A dona, Monica Pietri, conta que, apesar de ter começado a vender os produtos em 2020, foi em 2022 que conseguiu um espaço para montar um quiosque no shopping Parque Mall, em Indaiatuba. “Nós começamos a procurar feiras artesanais. Encontramos uma aqui, às quintas-feiras, e percebemos que muitas pessoas estavam se interessando, estava aumentando o fluxo de vendas. O contrato desta feira com o shopping encerrou e a única alternativa para ficarmos seria abrir um quiosque. Decidimos arriscar e investir”, relata Pietri. “Temos mais vendas, mas ainda não sabemos se a lucratividade cresceu, porque ainda não temos nem um mês de loja aberta”, comenta a empreendedora, que afirma ter buscado aprender sobre gestão por conta própria. Para o futuro, a meta é que o negócio seja mais inclusivo — hoje, já produz doces para diabéticos e intolerantes à lactose, mas falta atender os celíacos (intolerantes ao glúten).

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De acordo com Rubens Massa, professor da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV/Eaesp), o crescimento do número de novos negócios foi mais forçado pela necessidade de ter uma renda extra para a família do que pela oportunidade de vender algo inovador. “É um momento em que as pessoas montam suas empresas porque necessitam criar um emprego para si, já que perderam vagas no mercado formal de trabalho”. Assim, a questão se torna a administração: a pessoa pode ter boas qualificações para produzir o que pretende, mas não saber gerir. “Nós formamos uma massa empreendedora despreparada para as competências de gerir um negócio. Normalmente é o padeiro que sabe fazer pão e abre uma padaria, sendo que as competências para preparar um bom pão e gerir uma boa padaria são diferentes”, analisa.

Outro problema é que o momento econômico não é favorável, devido à inflação alta que o Brasil registra atualmente. Em junho, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), medida oficial da subida de preços no país, avançou 0,67% em relação a maio; no acumulado de 12 meses, a inflação está em 11,89%. Marco Vinholi, superintendente do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de São Paulo (Sebrae-SP), recomenda que os empresários prestem atenção total aos custos e busquem reduzi-los na medida do possível. “É preciso enxugar. Os empreendedores devem separar custos fixos e variáveis, envolver os colaboradores na gestão para reduzir custos, reduzir uso de energia elétrica das máquinas e equipamentos usados. Se precisar, também devem buscar novos fornecedores e reduzir o gasto com tarifas bancárias. A palavra-chave para quem quer empreender num período de alta inflação é gestão de custos”, aconselha. O Sebrae é uma entidade privada sem fins lucrativos.

Vinholi ainda ressalta que há oportunidades no momento atual, como o ingresso no setor virtual. E as chances estão sendo aproveitadas: de acordo com a nona edição da pesquisa “O Impacto da Pandemia de Coronavírus”, elaborada pelo Sebrae em parceria com a Fundação Getúlio Vargas (FGV) e divulgada em setembro de 2021, sete em cada dez micro e pequenos negócios já atuam nas redes sociais, aplicativos ou outras plataformas (marketplaces e e-commerces) para impulsionar as vendas. “É momento de empreender, mas de maneira cautelosa, sem querer dar passo maior que a perna. A geração de novos negócios é possível porque ainda tem uma perspectiva de crescimento econômico, mas com cuidado porque a possibilidade de inflação [alta] é muito grande”, analisa.

Além da falta de experiência e da conjuntura econômica nacional, os novos empreendedores também precisam enfrentar a dificuldade em conseguir crédito para iniciar e expandir seus negócios. “Existe um desconhecimento, um despreparo, uma má-vontade de conhecer a realidade das micro e pequenas empresas e compreender que elas nunca vão conseguir acesso ao gerente do banco na mesma intensidade de alguém de média e grande empresa. Quando conseguem, os juros são abusivos, porque os bancos entendem que há um risco maior e pedem uma taxa maior, complicando o pagamento, gerando esse ciclo de inadimplência, de inacessibilidade, de subida dos juros”, relata Massa. Assim, seria necessária uma ação governamental, facilitando o crédito para as pequenas empresas, como o que foi feito através do Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe), lançado em 2020.

Vinholi, por outro lado, destaca que o governo pode atuar de outras formas, na desburocratização e na desoneração da carga tributária, o que o governo paulista teria feito com o corte na alíquota dos impostos de combustíveis. Após imposição de limite de 18% no Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) pelo Congresso, o Estado acatou e determinou o corte; o etanol, que já tinha uma alíquota abaixo da determinada, também teve redução do imposto. “A simplificação do sistema tributário é um trabalho a ser feito em médio e longo prazo. Também é fundamental que o governo atue, oferecendo crédito barato e subsidiado para os pequenos negócios. É fundamental aumentar esse coberto, com crédito facilitado”, recomenda. Ao longo da pandemia, houve um aumento na oferta de crédito por parte de bancos e governos, mas a demanda por ele também cresceu.

À Jovem Pan, a Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Estado de São Paulo atribui o aumento no número de novos negócios a um conjunto de ações de órgãos do governo, como a digitalização de processos para desburocratizar e facilitar a abertura de CNPJs. “Processos que levavam de 4 a 5 dias para serem concluídos chegam a ser finalizados hoje em até 24 horas para empresas de baixo risco”, diz o órgão. A pasta também relaciona outras maneiras pelas quais procura apoiar os empreendedores, como a oferta de cursos e linhas de crédito. “A Secretaria de Desenvolvimento Econômico fomenta o empreendedorismo e oferece programas como o Bolsa Empreendedor, com cursos de qualificação, bolsa-auxílio de R$1.000,00 e formalização, além de linhas de crédito especiais pelo Banco do Povo, inclusive, a juros zero, como no caso da linha Nome Limpo, para micro, pequenas e médias empresas negativadas durante a pandemia da Covid-19.”

Jovem Pan