Aumento nas exportações de milho impõe mudanças na dinâmica

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O aumento nas exportações brasileiras de milho impuseram mudanças no mercado interno. Neste ano, a oferta do cereal deve ser recorde no país, com estimativa de embarque de 37 milhões de toneladas.

Para detalhar esse cenário, o pesquisador André Sanches, da área de milho do Centro de Estudos em Economia Aplicada (Cepea), foi entrevistado pelo Canal Rural. Ele falou sobre o mercado de milho ao participar da edição de sexta-feira (14) do telejornal ‘Mercado & Companhia’.

Milho em pauta

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Confira, abaixo, a entrevista com André Sanches:

1 — De que forma os embarques têm impactado nos preços?

Enquanto preocupações com a recessão mundial vinham pressionando as cotações desde meados de março, mais recentemente, fatores climáticos voltaram a elevar os preços. Vale considerar que os dados de início de setembro apontavam para um cenário de redução da relação estoque final/consumo, para 25,8%, uma das menores em nove anos-safras, e tudo indica que esta relação deve recuar ainda mais. Além disso, com restrição da oferta e de excedentes nos Estados Unidos, na Ucrânia e na Argentina, a presença brasileira nas exportações nos próximos meses será importante.

2 — Com a possível safra recorde, qual deve ser o cenário para as exportações? Enxerga-se alta a médio e longo prazo?

As estimativas da Conab apontam que, na temporada 2021/22, a produção brasileira de milho deve ser de 113,3 milhões de toneladas, gerando excedente de 46,5 milhões de toneladas, o segundo maior da história – abaixo apenas do de 2018/19, quando atingiu 51,3 milhões de toneladas. Para a próxima temporada, as estimativas apontam produção de 125,5 milhões de toneladas, o que geraria um excedente de aproximadamente 55 milhões de toneladas, possibilitando, portanto, que as exportações sigam crescentes.

3 — Pensando também na restrição de oferta na Ucrânia, o Brasil pode suprir essa demanda?

Para 2022, a maior oferta brasileira, que deve ser recorde, gerará bons excedentes exportáveis em um ano de restrição da oferta na Ucrânia, diante dos ataques russos e de problemas climáticos afetando a safra de importantes produtores do Hemisfério Norte. Nos Estados Unidos, principal produtor, o clima seco e quente deve prejudicar a produtividade das lavouras – por enquanto, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) indica queda de 7,7% na produção em relação à safra 2021/22 (relatório de setembro).

Na Europa, a seca e o forte calor vêm sendo considerados uns dos piores das últimas décadas, resultando em reajustes negativos nas estimativas de rendimento de safras. No início de setembro, o USDA indicou que a produção europeia deve diminuir 17,2% frente à temporada anterior.

Na China, uma severa onda de calor no sudoeste do país tem atingido as lavouras de arroz e de milho. Quanto à região do Mar Negro, há estimativa de redução de 25,2% na produção deste ano. Além disso, apesar da retomada de embarques pontuais por parte da Ucrânia, dificuldades logísticas vêm limitando o escoamento de grãos.

4 — Como isso afeta o mercado do cereal, tanto fora como aqui no país?

Por mais que o atual contexto internacional possa ser considerado uma oportunidade para as exportações nacionais, é necessário buscar compradores internacionais. A agroindústria brasileira consome cerca de 2/3 da produção nacional, ou seja, o excedente é expressivo, mas a capacidade de armazenagem é limitada.

Nesse contexto, compradores no mercado interno passam a competir com a demanda internacional via preços. Acompanhar de perto a paridade de exportação, a taxa de câmbio e o prêmio de exportação se tornou uma necessidade. Por sua vez, os preços domésticos, em especial na região dos portos, passam a refletir também o comportamento dos valores no mercado internacional, um ambiente muito diferente de 20 anos atrás, quando a exportação do cereal ocorria com menos intensidade.

Canal Rural