Suspeita de caso atípico de vaca louca pode suspender exportação temporariamente

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O resultado da análise laboratorial do caso suspeito de vaca louca no Brasil deve sair entre hoje e amanhã, me informou o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro. De acordo com fontes do governo, o caso em investigação é de um bovino de aproximadamente 10 anos, de uma propriedade no Pará. A idade avançada do animal reforça a expectativa de que seja um caso atípico da vaca louca. O caso atípico ocorre de forma espontânea, normalmente em animais mais velhos, e não há risco para o consumidor de carne bovina. “Isso porque animais velhos não costumam ir para frigoríficos para dar origem a cortes que vão para consumo naturalmente”, explica Vanessa Felipe, pesquisadora da Embrapa Gado de Corte na área de saúde animal e virologia.

Segundo a Organização Mundial de Saúde Animal (OIE), a encefalopatia espongiforme bovina, conhecida como mal da vaca louca, afeta o sistema nervoso do gado. A doença não é contagiosa e, atualmente, não há tratamento ou vacina. A suspeita de um caso, mesmo que atípico, traz impactos para a pecuária. A consultoria Agrifatto aponta que o protocolo do acordo comercial entre Brasil e China, por exemplo, prevê que o governo brasileiro suspenda a certificação de carne ao país asiático até que o resultado laboratorial saia. Só após o envio de um ofício às autoridades chinesas com os resultados é que pode ser autorizada a volta das exportações. Em 2022, a China comprou mais de 1 milhão de toneladas de carne bovina do Brasil e foi o principal destino do nosso produto, seguido por Estados Unidos, Chile e Egito. Em janeiro de 2023, a China também figurou como principal destino dos embarques da nossa carne bovina.

Efeito para as exportações de carne bovina

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Em 2021, o Brasil registrou um caso atípico de vaca louca e, na época, a China suspendeu a compra de carne bovina do Brasil por três meses. Com isso, as exportações sentiram o efeito e a arroba do boi gordo chegou a cair até R$ 51,00, saindo de R$ 305 para R$ 254,10, segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea). Com base nisso, há um grande temor de que essa situação se repita e o Brasil pare de enviar, temporariamente, carne ao nosso principal comprador devido à apuração sanitária.

Diferença entre caso clássico e caso atípico do mal da vaca louca:

Caso clássico: ocorre em bovinos após a ingestão de ração que contenha restos de animais contaminados. Este tipo nunca foi registrado no Brasil. Para o consumidor, há um risco, pois, neste caso, o ser humano, através de carne contaminada, poderá desenvolver a doença creutzfeldt-jakob, que causa desordem cerebral, perda de memória e tremores.

Caso atípico: ocorre de forma espontânea, normalmente em animais mais velhos, e não há risco para o consumidor. Até o momento, a incidência de ambas as formas no mundo é estimada em quase zero casos por milhão de bovinos.

Confira mais detalhes na entrevista com a pesquisadora da Embrapa Gado de Corte na área de saúde animal e virologia, Vanessa Felipe

Qual a origem da encefalopatia espongiforme bovina?

Embora já se saiba há um bom tempo da existência dos príons (que são proteínas), não entendemos como eles funcionam. São estruturas proteicas, e consideramos que não há vida nessas estruturas. Mas como uma proteína pode ser infecciosa? Para uma coisa ser infecciosa, ela precisa se reproduzir e multiplicar. E como uma proteína faz isso de forma espontânea? Esses são alguns lapsos que não temos respostas. Algumas dessas proteínas fazem parte do sistema nervoso central do animal, elas já existem nos cérebros de animais, humanos e mamíferos.

Há riscos no consumo de carne bovina em casos atípicos de vaca louca?

Assim como a classificação do Brasil frente à OIE, o risco para o consumo é insignificante. Isso porque animais velhos não costumam ir para frigoríficos para dar origem a cortes que vão para consumo naturalmente. Muitas vezes são utilizados para embutidos e cortes “menos nobres”, especialmente porque o acúmulo dessas proteínas [da doença] ficam mais restritas a determinadas partes do animal, como sistema nervoso central, fundo de olho que geralmente não são consumidas. Então o risco é desprezível.

E em casos clássicos de vaca louca?

No caso clássico, o animal tem que comer uma ração contaminada com a proteína priônica. Como isso no Brasil é proibido, o risco é mais desprezível ainda. O que alertamos é para o cuidado de não alimentar bovinos com restos de proteína animal. A fiscalização no Brasil funciona muito bem neste sentido, com todos os encargos possíveis de se colocar frente a quem não obedece essa legislação. Agora, o que aconteceu na Inglaterra, quando teve aquele grande surto, é que não se tinha esse cuidado porque não se sabia desse risco. Então, muito material acabou indo para alimentação humana, a concentração disso acabou se dispersando e a doença foi mais facilitada. Como isso não acontece no Brasil, o risco é insignificante.

A população deve deixar de consumir carne bovina?

Não há recomendação alguma para parar ou diminuir o consumo carne bovina porque se sabe que toda carne é produzida dentro dos padrões de qualidade, fiscalizada pelos órgãos de defesa locais e processada em frigoríficos com todas as boas práticas e cuidados. Essa carne é fiscalizada para que o produto final seja bom para o consumo. Não recomendamos que a população pare de consumir por conta de uma situação como essa, que são casos isolados. Todos os casos que tivemos hoje foram atípicos. No caso da preparação, se a pessoa se sentir mais segura fazendo o cozimento com maior temperatura durante o processamento da carne na residência, será um efeito mais psicológico.

Jovem Pan