Somando mais 5,2 milhões de seguidores no Instagram, o padre Patrick Fernandes chega aos seus 10 anos de sacerdócio com o status de influenciador digital. O sucesso do religioso nas redes sociais começou durante a pandemia, quando passou a responder com um toque de humor as perguntas que recebia dos seus seguidores. “Sempre gostei de trazer felicidade e de fazer as pessoas sorrirem. Quando começou a pandemia, eu sentia muita vontade de conversar e, como estávamos impossibilitados, eu comecei a gravar perguntinhas no Instagram de forma muito despretensiosa para os mil seguidores que eu tinha.
Os vídeos foram viralizando e ganhou uma proporção gigante”, relembrou Patrick em entrevista à Jovem Pan. Para o religioso, a internet é uma ferramenta indispensável nos dias de hoje, pois possibilita conectar pessoas de diversas partes do mundo e foi fundamental, por exemplo, para transmitir missas no auge da Covid-19. Essa proximidade da Igreja com a tecnologia acabou ajudando o padre a ter seu lado influenciador bem aceito. “Claro que sempre tem as objeções, na minha paróquia talvez não, mas sempre tem as exceções. A gente tem que humanizar a figura do padre, não o ver como um ser inatingível ou inacessível, mas como uma pessoa que está no meio das outras para trazer uma mensagem de esperança, de paz.”
Perguntas sobre relacionamento
Com um público majoritariamente feminino, a maioria das perguntas que o padre recebe envolve as dificuldades enfrentadas em um relacionamento. “Ele pagou meu silicone, sou obrigada agora a ficar com ele?”, questionou uma seguidora em um dos vídeos publicado pelo sacerdote. “Não! Tenha peito para tomar uma decisão”, respondeu Patrick aos risos. Por fazer muitas brincadeiras do tipo, há quem acredite que o padre não apoia o sacramento do matrimônio. “Às vezes, as pessoas acham que eu não acredito no casamento. Isso não é uma verdade. De tanto eu escutar pessoas que vão até mim desabafar, acabei transformando isso em umas piadinhas. Mas, na verdade, tudo é fruto do que as pessoas dizem para mim. Tenho esse tom do humor e acho isso indispensável no mundo de hoje, que é um pouco pesado e cruel. Acho que Jesus era bem-humorado e uma pessoa leve, por isso ele atraia tanta gente. Utilizo o humor para atrair as pessoas e, a partir de então, levo uma mensagem mais séria também”, explicou.
Por outro lado, Patrick também acredita que o casamento não deve ser uma prisão, pois, no entendimento do padre, não é o desejo de Deus ver uma pessoa presa em um relacionamento tóxico e abusivo. “Qualquer relação, seja amizade ou marido e mulher, em que você está sendo escravizado de alguma forma, violentado fisicamente ou verbalmente, esse não é o seu lugar. Nesse momento, você não tem que pensar em uma instituição, você tem que pensar na vontade de Deus para sua vida e, com certeza, não é que você esteja ali se expondo. É evidente que situações assim geram, principalmente na mulher, uma dependência não só emocional, mas também financeira que talvez impeça a pessoa de agir e escolher romper aquilo, mas quando chega a um estágio desse já não existe casamento há muito tempo ou talvez nunca existiu”, comentou.
Cantadas e seus limites
Além de vídeos bem humorados e posts reflexivos, Patrick também usa suas redes sociais para mostrar sua rotina de exercícios físicos. O padre negou que faz academia por vaidade e afirmou que negligenciar a própria saúde física também deveria ser considerado um pecado. “Vejo nosso corpo como um dom de Deus que nos foi oferecido. Então se eu não tiver o mínimo de cuidado que seja, se estiver entregue a vícios como cigarro e bebidas, se não praticar uma atividade física e se não me alimentar bem, eu estou de certa forma negligenciando aquilo que Deus me ofereceu. Penso que cuidar do nosso corpo e da nossa aparência é fundamental para a gente viver bem. Não é para o outro, é para si mesmo.” Por desmistificar a figura do padre, algumas pessoas confundem as coisas e disparam cantadas nas postagens do religioso. “Eu não ligo muito. Não costumo ler e acompanhar comentários e directs, mas acho que tem um limite para tudo. Às vezes, algumas pessoas fazem elogios que não vejo como maldade, mas sempre a gente vai encontrar na internet ou pessoalmente situações que extrapolam um pouco os limites, não só porque eu sou padre. Tem uma linha que não podemos ultrapassar porque aí se torna assédio”, enfatizou.
Apoio da família
Patrick não vem de uma família religiosa e encontrou desconfiança em casa quando comunicou que seria padre. “Moro na cidade de Parauapebas, no Pará. Sou natural do Espírito Santo e minha família migrou para Marabá. Vim com a minha mãe, meus pais são separados. Quando tinha 18 anos, eu fiz um retiro na igreja que foi transformador, mudou a minha vida e a partir de então eu comecei a frequentar mais a igreja. Queria ser útil de alguma forma, queria ajudar pessoas e aos poucos eu fui conhecendo a vocação de ser padre”, contou. “Quando falei para a minha família, acho que não acreditaram em um primeiro momento. Não encontrei objeção, mas encontrei desconfiança, não só da parte deles, mas das outras pessoas também, porque era algo novo. Aos poucos, eu fui mostrando com perseverança e persistência que era isso que eu queria para a minha vida. Hoje, meus pais e irmãos frequentam a igreja e se sentem muito orgulhosos disso.” O sacerdote capixaba entrou no seminário aos 18 anos, cursou filosofia, teologia e se ordenou padre aos 25. Em 27 de janeiro deste ano, ele completou 10 anos de sacerdócio.
Jovem Pan