Na quarta-feira, 21, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central optou mais uma vez por manter a taxa básica de juros em 13,75% ao ano. Esta é a sétima manutenção consecutiva e o período mais longo no qual a taxa não foi alterada desde junho de 2019, quando a Selic foi mantida em 6,50% por 10 reuniões, ou quase um ano. O comunicado não trouxe grandes surpresas para os especialistas do mercado, que já esperavam que a taxa fosse mantida. Contudo, uma mudança importante foi no tom adotado pelos membros, que foi mais moderado na avaliação dos especialistas. Estrategista Chefe da RB Investimentos, Gustavo Cruz observa que o comunicado do Copom tenta afastar a sensação de que o comitê já tem uma visão bem definida para os próximos 45 dias em relação aos juros. “O comitê quer passar a mensagem de que começa a ver sinais de convergência da parte qualitativa com a regra fiscal. Existem algumas indefinições ainda e aberturas que preocupam, mas o comunicado abre uma porta para o corte de juros em agosto. No entanto, é um comunicado duro para que seja um começo de corte bem parecido com o que foi durante o governo de Michel Temer. Em um primeiro momento foi de 0,25%, justamente para tirar a pressão política de que o Banco Central estava deixando a taxa estável. Por outro lado, você começa de forma tímida no menor padrão possível internacional [de corte de juros] e depois acelera o ritmo conforme a inflação vai convergindo para a meta”, observa. Para ele, essa estratégica é feita para que o mercado não precifique uma queda dos juros maior que 0,25%.
André Meirelles, diretor de Alocação e Distribuição da InvestSmart, considera que o comitê decidiu manter um tom menos ‘hawkish’, apesar de reforçar que a conjuntura atual é caracterizada por uma desinflação da economia brasileira em passos lentos e expectativas de inflação desancorada. “O comitê retirou do comunicado trechos importantes, como por exemplo, a frase que dizia não hesitar em retomar o ciclo de ajuste nos juros, caso o processo de desinflação não transcorra como esperado, e o parágrafo que dizia que não necessariamente o lançamento do novo arcabouço Fiscal levaria a queda dos juros, apesar de incluir em seu balanço de riscos que as incertezas sobre o projeto ainda têm impacto sobre a percepção de inflação. Em suma, o BC manteve o tom técnico, mostrou que houve uma melhora na inflação, mas ainda mostra que o futuro da política monetária dependerá dos dados de inflação. Para reunião de agosto, a decisão do Copom não se mostrou clara”, pondera.Co-head de Investimentos da Arton Advisors, Raphael Vieira, avalia que o tom do comunicado foi mais ameno do que o último e deixou claro que a partir dos próximos meses a análise será “data dependente”. “Ou seja, deixou a porta aberta para no futuro iniciar o ciclo de cortes, porém continuou a adotar a recomendação de cautela e parcimônia na condução da política monetária. O comunicado citou, ainda, a necessidade de aprovação e desenho final do arcabouço fiscal como um dos pontos de risco para de alta para o cenário inflacionário”, ressalta.
Contudo, há divergências entre os analistas. Na contramão, o economista chefe da Reag Investimentos, Marcelo Fonseca, considera que o tom do comunicado foi ligeiramente mais duro do que se antecipava e que o Copom não corroborou as expectativas da grande maioria dos analistas. “Era esperado que haveria uma sinalização mais explícita de início iminente do ciclo de corte de juros. Ao contrário, o comitê continua reforçando a necessidade de paciência e cautela na condução da política monetária, em função de uma conjuntura caracterizada por um processo desinflacionário mais lento e com expectativas de inflação desancoradas” Adicionalmente, as projeções de inflação do Copom para o ano de 2024 recuaram apenas marginalmente para 3,4%, patamar ainda superior à meta de 3,0% para o IPCA. Quanto aos próximos passos, o comitê manteve a linguagem lacônica usual, reafirmando que estes dependerão evolução da dinâmica inflacionária. Mantemos nossa percepção de que o início do ciclo de cortes da Selic deverá acontecer já em agosto. Acreditamos que a continuidade do recuo da inflação corrente e manutenção das metas de inflação na reunião do Conselho Monetário Nacional deverão promover recuos adicionais nas expectativas de inflação, abrindo o espaço necessário para a flexibilização da taxa de juros”, analisa.
Jayme Carvalho, economista e sócio da SuperRico, acredita que o comunicado veio mais duro que o esperado por ele. “Já a queda do dólar deve contribuir para reduzir as expectativas de inflação nos próximos meses. Com base nesses fatores, é provável que o Banco Central reduza as taxas de juros em breve, porém não ficou claro se será já em agosto. A aprovação de novas regras fiscais poderá criar um ambiente favorável para o corte que irá se estender até 2024. Apesar de não ter deixado claro quando começará a cortar, acredito na manutenção de um clima mais positivo no mercado local”, avalia. Economista da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi), Nicola Tingas pontua que o comunicado não confirmou expectativas de que o Banco Central está próximo de iniciar o ciclo de redução da taxa de juros. “Pelo contrário, a ata mantém um tom mais duro que o esperado pelo mercado, que já esperava uma sinalização de uma possibilidade de corte em agosto ou setembro. De certa forma, ele tenta ganhar tempo e jogar para um prazo indeterminado. Isso fica claro quando o Copom chama a atenção para o risco de incerteza residual”, complementa.
Jovem Pan