Foi na sexta-feira (1), em Tapera, no Rio Grande do Sul, que ocorreu a celebração dos resultados de mais uma safra de soja: a Abertura Nacional da Colheita – Safra 23/24.
O evento, sediado na Fazenda Grandespe Sementes, marcou a retomada do estado ao posto de segundo maior produtor do grão do país após dois ciclos seguidos de quebra acentuada por conta da estiagem, reflexo direto do fenômeno climático La Niña.
De acordo com dados divulgados por analistas de mercado presentes na ocasião – e em linha com a estimativa da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) – os gaúchos devem colher cerca de 22 milhões de toneladas da oleaginosa nesta temporada.
A Abertura da Colheita da Soja, como já é tradição, traz, além das máquinas em campo, paineis de discussão de temas centrais ao setor. Nesta edição não foi diferente.
O primeiro deles abordou as políticas públicas no agronegócio e contou com a participação de congressistas de renome no setor. O senador Luis Carlos Heinze, por exemplo, falou sobre a necessidade de a Frente Parlamentar de Agricultura (FPA), auxiliada por todos os produtores, investir em uma agenda prévia à 30ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP 30), a ser sediada em 2025 no Pará.
“É a oportunidade de nós dizermos o que o Brasil quer do mundo, não o que o mundo quer do Brasil. […] A agricultura brasileira não é responsável pelo aquecimento global. A causa desse problema não está no arroto, nos gases emitidos pelas nossas vacas, nosso gado. Ninguém fala da contribuição da China, dos Estados Unidos, da União Europeia, dos automóveis, que são os maiores emissores [de gases poluentes]”.
De acordo com ele, não há país no mundo com exigências ambientais tão restritas como o Brasil, com um Código Florestal de tamanha rigidez.
Já o deputado federal Alceu Moreira destacou que o trabalho de comunicação do agronegócio deve ser constante.
“Temos que mostrar para as pessoas da cidade que toda vez que elas se reúnem para uma ocasião, uma festa, a agropecuária está no centro das atenções, está na comida. O mesmo vale para a dona de casa na Europa, que precisa entender que toda vez que ela pega um produto brasileiro na prateleira do supermercado, ele chega lá com muita qualidade”.
O presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), Pedro Lupion, presente virtualmente na Abertura Nacional da Colheita da Soja, ressaltou que o governo federal precisa assumir que há, de fato, uma crise no agro. “Necessitamos de recursos para garantir o seguro rural, para socorrer o produtor em dificuldade”, disse.
Mercado da soja
O evento também discutiu temas relacionados a mercado, reunindo nomes de destaque como o do economista-chefe da Farsul, Antônio da Luz e do analista da consultoria Safras & Mercado, Luiz Fernando Gutierrez.
Além deles, participaram de forma remota o pesquisador da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Felippe Serigati; e o fundador da Pátria Agronegócios, Matheus Pereira.
Serigatti destacou os desafios enfrentados no início da safra, observando que uma quebra não necessariamente impulsiona os preços para cima. Ele ressaltou a importância de refletir sobre o aumento significativo da produção de soja no Brasil nos últimos anos.
Já Antônio da Luz enfatizou a necessidade de encarar a realidade diante do aumento expressivo na produção de soja. Em 2023, o Brasil produziu 155 milhões de toneladas, um aumento notável em relação aos 130 milhões de toneladas de 2022. Ele ressaltou que não há solução mágica para os desafios atuais do mercado.
Felipe Serigatti levantou questionamentos sobre a expansão de áreas cultivadas para a soja, ponderando se essa estratégia está facilitando a oferta de maneira sustentável. Ele comparou a situação ao setor arrozeiro, que, ao entender os limites de produção, evitou crises.
Já Luiz Fernando Gutierrez destacou a extrema irregularidade da safra, uma das mais difíceis em seus 14 anos de atuação no setor. Segundo ele, o Rio Grande do Sul se tornará o segundo maior estado produtor de soja em 2024, superando o Paraná.
Ele também alertou que a volta da produção massiva de soja da Argentina fez com que Chicago enxergasse oferta satisfatória no continente sul-americano. Com isso, os preços caíram significativamente. Em comparação ao mesmo período do ano passado, a saca está pelo menos 50 reais mais barata a nível Brasil.
Homenagem ao fim de um ciclo
O presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Soja e Milho (Aprosoja Brasil), Antônio Galvan, recebeu homenagens durante a Abertura Nacional da Colheita da Soja.
Após três anos de liderança, o atual mandatário da entidade se retira do cargo em abril. “O Galvan sempre foi incansável em todos os lugares onde passou, sempre empenhado na defesa do produtor rural”, disse o presidente do Canal Rural, Julio Cargnino, ao entregar uma placa de agradecimento ao homenageado.
Galvan faz parte do Projeto Soja Brasil – realizador do pontapé inicial do plantio e da colheita da oleaginosa em todo o país – desde o início, em 2012.
Ao todo, ele tem quase 20 anos à frente de cargos eletivos que representam o produtor rural. Assim, é considerado uma das principais vozes em defesa do agronegócio nacional não apenas no Brasil, como em todo o mundo.
Canal Rural