O visionário cineasta e vencedor do Oscar, Juan José Campanella, está prestes a transportar a icônica personagem de Quino, Mafalda, das páginas dos quadrinhos para o universo vibrante das séries animadas. A adaptação promete captar a essência satírica e crítica da obra original, conquistando tanto os fãs de longa data quanto uma nova geração de espectadores. Em uma colaboração ambiciosa, Campanella assume os papéis de diretor, roteirista e showrunner, garantindo que sua visão singular permeie cada frame da série.
Ao seu lado, o talentoso Gastón Gorali coassina o roteiro e atua como produtor geral, enquanto Sergio Fernández ocupa a cadeira de diretor de produção. Essa nova empreitada é uma produção original da Netflix em parceria com o estúdio Mundoloco CGI, prometendo um espetáculo visual e narrativo à altura do legado de Quino.
Esta série animada não é apenas uma homenagem à Mafalda, mas uma reinterpretação corajosa que busca explorar e expandir os temas universais presentes na obra de Quino, oferecendo ao público uma nova perspectiva sobre uma personagem que, apesar das décadas, permanece relevante e provocadora.
Leia carta de Juan José Campanella sobre Mafalda
Eu tinha sete ou oito anos quando foi publicado o primeiro catálogo de tirinhas de Mafalda em forma de livrinho. Meus pais liam as tiras e me diziam que eu não ia entender. Que ofensa. Que desafio. Corri para comprá-lo e ainda me lembro de subir a ladeira de Melo enquanto lia, dando gargalhadas e admitindo que, de fato, haviam tiras que eu não entendia. Mafalda e seus amigos não só me faziam rir muito, mas de vez em quando me mandavam ao dicionário. E cada palavra nova que eu aprendia vinha com o prêmio de uma nova gargalhada.
Logo eu já era mais um da turma da Mafalda. Posso citar muitas piadas de memória, mas como hoje enfrento esse enorme desafio, não vou começar com os spoilers.
Corte para décadas depois, em plena produção de Metegol. O mestre Quino veio visitar nosso escritório de produção. Havia quase 200 artistas de diferentes gerações e para todos nós era como se Deus tivesse entrado. Lembro que foi nesse dia que Quino tentou, pela primeira vez, desenhar com um lápis digital. Um gigante como ele, que inspirou gerações de desenhistas com seu traço, e muitos outros humoristas com seu senso de ironia e comentários perspicazes, estava dando forma a um traço, mas como nunca antes, sem tinta nem papel. Seu entusiasmo era o de uma criança com um brinquedo novo, fazendo dezenas de perguntas. O entusiasmo e a curiosidade de quem nunca acreditou saber tudo.
Desde essa visita, começaram a surgir perguntas. Como podemos reconectar as novas gerações que não cresceram com Mafalda a essa grande obra? Como podemos levar seu engenho, sua mordacidade, às crianças que hoje crescem em plataformas digitais? Como podemos, enfim, traduzir uma das maiores obras da história do Humor Gráfico para a linguagem audiovisual?
Hoje, doze anos depois dessa visita inesquecível, enfrentamos esse desafio. Nada mais nada menos que transformar Mafalda em um clássico da animação. É nossa obrigação preservar o humor, o timing, a ironia e as observações de Quino. Sabemos que não podemos elevar Mafalda, porque mais alta ela não pode estar. Mas sonhamos que aqueles que são devotos dela desde o início possam compartilhá-la com nossos filhos, e embora haja coisas reservadas apenas para adultos, todos possamos soltar uma gargalhada em família, e por que não, recorrer ao dicionário de vez em quando.
Sem dúvida, de longe, o maior desafio da minha vida.
Juan José Campanella
Jovem Pan