Os livros de história não seriam os mesmos se não houvessem os fatos que marcaram o Brasil em1964 e, muito menos, as vidas de milhares de pessoas que estiveram envolvidas direta ou indiretamente no período da ditadura militar. Finalizado em 15 de março de 1985, o regime operou durante 21 anos e, no Oeste Paulista, as ações de censura que marcaram o interior de São Paulo agora terão espaço em um documentário exclusivo, que será lançado nesta sexta-feira (23), em Presidente Prudente.
Intitulado como “Memórias da Ditadura no Oeste Paulista”, o documentário produzido e dirigido por Claudio Santos e Matheus Maturano conta com relatos de pessoas que viveram o período da ditadura e busca divulgar detalhes pouco conhecidos sobre o tema. Esta será a primeira produção que abordará os atos do regime militar no Oeste Paulista.
De acordo com um dos produtores da obra, Claudio Santos, a escolha do material foi resultado de um processo de pesquisa minucioso. Durante três meses, a equipe esteve em busca de arquivos em Presidente Prudente, estabeleceu novos contatos e, em reuniões semanais com o coordenador de pesquisa, Heitor Ribeiro, compartilhou descobertas e checou os materiais que eram relevantes para fazer parte do filme.
“Descobrimos muitas histórias inéditas, foi um processo muito enriquecedor. No entanto, infelizmente, algumas histórias acabaram ficando de fora, o que está tudo bem visto que é o primeiro documentário sobre o tema. Não tem como abraçar o mundo”, ressalta Santos.
“A ideia de produzir o filme surgiu de uma necessidade pessoal que já existia havia muito tempo. O coordenador desta pesquisa foi meu professor e, por meio das aulas, tive meu primeiro contato com a questão da ditadura civil-militar no Brasil. O que me chamou a atenção na época foi que os livros de história focavam principalmente no eixo Rio-São Paulo, sem mostrar o que acontecia no interior. Desde então, eu sempre quis entender como esse período afetou as pessoas da minha região”, enfatiza.
Para o produtor Matheus Maturano, uma das partes mais desafiadoras no processo de produção do filme foram as gravações, principalmente a definição das datas e dos horários para realizarem as captações, mas ressalta que, apesar de todos os imprevistos que tiveram ao longo do caminho, o processo de criação foi prazeroso e gratificante.
“Olhar para o tema, estudar, ouvir cada uma das histórias e editá-las é um exercício constante de sensibilidade. É preciso estar aberto para a dor do outro e respeitá-la através do filme”, esclarece Maturano.
Sobre o resultado final do filme, Maturano conta que já possuía experiência no audiovisual, especificamente em cinema, mas compartilha que este foi o primeiro documentário que produziu na carreira e que pretende seguir nas produções.
“Como um dos realizadores do documentário, sempre acho que há o que ajustar, mas no geral cumprimos com os nossos objetivos. O que fizemos, basicamente, foi cinema de guerrilha, ou seja, um tipo de cinema com poucos recursos, mas com muita alma e entrega. Sempre me guiei por um dos jargões do movimento Cinema Novo, que é ‘uma ideia na cabeça e uma câmera na mão’. Basicamente foi o que fizemos”, finaliza.
Ao todo, o documentário possui 33 minutos de duração.
Foram oito meses de trabalho, somando cerca de 820 horas, e que, ao fim, entregam ao público um material rico em conteúdo histórico sobre a ditadura militar no Oeste Paulista.
Sobre o documentário
“Memórias da Ditadura no Oeste Paulista” é uma imersão na história e nas vivências das comunidades da região de Presidente Prudente durante os sombrios anos da ditadura militar no Brasil. Por meio de relatos e depoimentos daqueles que viveram este período, o documentário revela as histórias de resistência, solidariedade e coragem que permearam a cidade e os arredores durante os anos de repressão política, entre 1964 e 1985.
Ao examinar os impactos social, cultural e político do regime autoritário, o documentário lança luz sobre as dinâmicas locais e as expressões de resistência. Além disso, ressalta a importância crucial da preservação da memória histórica e do legado de luta por liberdade e justiça, servindo como um poderoso lembrete dos perigos do autoritarismo e da importância contínua da defesa dos direitos humanos.
Ainda, o filme não se limita a narrar os eventos do passado, mas também oferece uma reflexão sobre o significado e a relevância dessas experiências para as gerações atuais e futuras, sublinhando a importância de aprender com o passado para garantir um futuro mais justo e democrático.
O documentário “Memórias da Ditadura no Oeste Paulista” conta com roteiro e direção de Matheus Maturano, pesquisa de Heitor Ribeiro e Claudio Santos e produção de Claudio Santos.
Disponibilização do conteúdo
Com todas as vagas preenchidas para a exibição de lançamento do documentário, que será realizada nesta sexta-feira (23), no campus da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Presidente Prudente, os produtores ressaltam que a proposta para disponibilização da obra é de que seja transmitida em outras universidades, pontos culturais e festivais de cinema, para que, posteriormente, também seja encontrada de forma acessível na internet.
Com o objetivo de atender a todos os públicos, o documentário também terá audiodescrição e será lançado no dia 28 de setembro, às 19h, no cinema do Centro Cultural Matarazzo, na Vila Marcondes.
O documentário conta com uma página no Instagram que os responsáveis pela obra utilizam para informar os seguidores sobre as atualizações do filme e gerar ainda mais proximidade com o público por meio de fotos, vídeos de making of e curiosidades sobre o processo de produção.
Ainda, a realização das gravações se dá pela Lei Paulo Gustavo nº 195/2022, que garante a distribuição de recursos para projetos culturais, como documentários e produções audiovisuais, em todo o Brasil.
As informações sãodo G1. – Portal Bueno
