A história e as curiosidades dos caminhões Peterbilt 389 que chegaram ao Brasil neste ano

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O último 25 de março foi agitado no porto de Paranaguá (PR), um dos mais movimentados do Brasil. Os funcionários do local estão acostumados ao entra-e-sai de milhares de veículos dos navios RoRo, cargueiros enormes feitos especialmente para transportar praticamente qualquer coisa sobre rodas, mas os dez Peterbilt 389 que deixaram o navio Athens Highway naquele dia atraíram olhares até de quem não é fã dos desenhos dos Transformers.

Contudo, a associação entre os massivos cavalos mecânicos com mais de 7 metros de comprimento e Optimus Prime, protagonista da série de filmes e desenhos animados baseados em um brinquedo, é inevitável e até injusta, já que o 389 é muito mais que um protagonista de filmes: ele representa a essência dos caminhões norte-americanos.

O limite máximo para o comprimento dos caminhões nos Estados Unidos considera apenas a carreta. Isso popularizou por lá os chamados “bicudos”, cavalos mecânicos com motor à frente e cabine ampla. O Peterbilt 389, que é o sucessor do icônico 379, representa isso melhor do que ninguém. Pode fazer o teste: peça para uma criança desenhar um caminhão, e certamente os traços básicos dos modelos quadradões da fabricante fundada em 1939 estarão lá. Enormes para-choques que mais parecem placas prontas para esmagar qualquer um à frente, grade do radiador de aço inox com a aerodinâmica de um tijolo e cromados de dar inveja a um Cadillac fazem parte dos itens de série do 389.

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Há poucos detalhes sobre as dez unidades que chegaram ao Brasil. Sabe-se que elas foram encomendadas por empresários que já colecionam caminhões em São Paulo, Santa Catarina, Minas Gerais e Rio Grande do Sul. A negociação teria envolvido até a Paccar, dona da Peterbilt e da DAF, fabricante holandesa que produz caminhões em Ponta Grossa (PR). Normalmente, esse tipo de importação envolve o máximo de discrição, mas Autoesporte apurou que, entre custos de importação, impostos e documentação, cada cavalo mecânico teria custado mais de R$ 2 milhões.

Os 389 que chegaram ao país receberam boa parte dos inúmeros equipamentos opcionais oferecidos pela Peterbilt, inclusive a enorme cabine com cama, televisão, armário e geladeira. Há até um gerador elétrico exclusivo, similar às APU (unidade de força auxiliar, em inglês) usadas em aviões. Um relato de quem acompanhou os caminhões credita a esses pequenos motores, feitos para alimentar o ar-condicionado e o sistema elétrico da cabine sem depender do propulsor principal, a rápida solução de um problema no desembarque: como os 389 estavam com a bateria principal descarregada, coube aos geradores recarregá-las para que fosse possível dar a partida nos veículos.

Os cuidados estão à altura da exclusividade dos modelos importados, que receberam placas e bancos bordados com o nome dos proprietários e até uma sequência numérica de chassi específica para o lote de dez unidades do 389.

Apesar do preço, os Peterbilt não possuem todos os recursos tecnológicos presentes em outros caminhões topo de linha, como o Mercedes Actros. No quesito segurança, por exemplo, há ABS e controle de estabilidade, mas o controlador de velocidade é convencional e não há frenagem autônoma de emergência. O ar-condicionado manual, a chave convencional e o quadro de instrumentos analógico, com apenas uma pequena tela de cristal líquido, reforçam o estilo retrô do 389 — para quem busca mais tecnologia, a Peterbilt oferece o topo de linha 589, mais próximo dos caminhões europeus que se popularizaram no Brasil.

Os mesmos relatos de quem acompanhou os trâmites burocráticos indicam que os clientes escolheram o enorme motor Cummins seis cilindros turbodiesel com 15 litros de deslocamento e quase 610 cv para movimentar os caminhões. O motor é conectado a um câmbio automatizado de 18 marchas e dois overdrive, que baixam a rotação do motor em alta velocidade, algo bem útil nos Estados Unidos, onde a máxima em algumas estradas pode chegar a 110 km/h mesmo para os caminhões.

Mas nem precisaria de tanta potência: nenhum desses Peterbilt irá para a labuta, já que seus proprietários pretendem apenas usá-los em passeios e exposições e mantê-los em coleções particulares. Certamente uma vida que Optimus Prime não gostaria de ter nos Estados Unidos, mas que combina com uma merecida aposentadoria em terras tropicais.

Optimus Prime

O líder dos Autobots se transformava em caminhão desde quando os Transformers eram somente uma linha de brinquedos. Ele já adotou vários estilos de carroceria (incluindo uma “cara-chata”), mas sua fama mundial foi consolidada pelo Peterbilt 379 que participou de várias sequências do live-action de Hollywood.

Autoesporte