Cenário para o agro é otimista, mas demanda precaução

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O produtor rural tem bons motivos para estar otimista com o próximo ciclo (2021/22). Com o câmbio favorável, a tendência é de que os preços continuem lá em cima – principalmente, para os grãos – garantindo renda da porteira para dentro. Por outro lado, o setor também deve manter uma ponta de precaução. Isso porque, no plano internacional, há incertezas em relação às safras mundiais – em um cenário em que os Estados Unidos já vêm com estoques baixos. No âmbito nacional, o Brasil passará pelo período eleitoral, o que deve mexer com o humor do mercado, trazendo turbulências. Soma-se a isso o fim da pandemia, que deve provocar o aumento da demanda por produtos agropecuários.

“Não é um ano comum. É um ano ótimo para o agronegócio, mas um ano difícil para o mercado”, definiu o consultor-chefe da agência Safras & Mercado, Paulo Molinari, em live promovida pelo Sistema FAEP/SENAR-PR, no dia 9 de junho, em que o especialista apresentou perspectivas para o setor. “Para os produtores, os preços continuam muito bons, apesar do aumento dos custos de produção. Os preços de fertilizantes chegaram a dobrar em dólar no mercado internacional, mas a acomodação cambial ajudou. Temos preços de mercado acima de qualquer média histórica”, acrescentou.

À medida em que a população for se vacinando e as pessoas passarem a retomar um ritmo de vida mais próximo do normal, o consultor projeta um aumento de demanda, que deve alterar a “chave econômica global”. Com essa recuperação das economias mundiais, espera- -se que a taxa de juros global comece a subir, afetando o câmbio – ou seja, tornando o dólar ainda mais forte. A moeda americana em alta, que vem favorecendo as exportações de produtos do agro, deve continuar garantindo o rendimento dos produtores rurais brasileiros.

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“Com a alta de juros, a tendência é a valorização do dólar. O yuan [moeda chinesa] também tem acompanhado esse movimento do dólar. O yuan e o dólar fortes são importantes para nossas exportações”, explicou Molinari.

“A nossa preocupação é que teremos um ano eleitoral em 2022. E, a exemplo do que aconteceu nos Estados Unidos, não será um ano fácil. Geralmente, anos eleitorais geram um efeito especulativo cambial”, ressalvou. Na avaliação do consultor, outro ponto positivo é a saúde da economia brasileira, que deve fechar o ano com a balança comercial positiva em US$ 60 bilhões e que dispõe de uma reserva de US$ 370 bilhões. As projeções são de que o país termine 2022 com o PIB crescendo 3,2% e com o câmbio em um ponto de equilíbrio em torno de R$ 5,40. “O problema do Brasil são as contas públicas, que deixaram uma cicatriz, que gera inflação. Para conter essa cicatriz, o Banco Central tem aumentado a taxa de juros”, apontou.

Perspectivas de safras

No Brasil, a safrinha de milho sofreu uma quebra sem precedentes, que atingiu o Paraná, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Goiás, Minas Gerais e São Paulo. Em um cenário de La Niña de fraca intensidade, as condições para o verão ainda são incertas. O certo, no entanto, é que os problemas climáticos já contribuem para reduzir a oferta interna de milho. “Em 37 anos de safrinha, eu nunca vi uma quebra como essa”, disse Molinari.

Além de estar com os estoques baixos, os Estados Unidos também estão em alerta em razão das perspectivas climáticas. No Centro-Norte e Meio-Oeste, o nível de umidade e a quantidade de chuvas estão abaixo do normal. As temperaturas, por sua vez, estão acima das médias históricas. Segundo Molinari, só será possível ter uma dimensão mais real da safra norte-americana a partir de agosto. “Até lá, vamos ter muitas emoções. Se São Pedro trabalhar direitinho, os Estados Unidos terão safra cheia. E temos que ficar de olho, porque enquanto não se recuperarem os estoques lá, os preços não se acomodam”, observou.

A Argentina, por sua vez, teve uma boa safra de milho. Mas no país vizinho as preocupações são de natureza política. Molinari não descarta a possibilidade de o presidente argentino, Alberto Fernández, vir a bloquear as exportações de milho, como já fez com as de carne. Outro gigante, a China está com os estoques baixos e deve vir ao mercado com apetite para grãos. Tudo isso pode afetar o abastecimento interno.

“Em relação ao milho, a primeira coisa que temos que nos preocupar internamente é com nosso abastecimento. Isso foi avisado no primeiro semestre do ano passado e estamos avisando de novo. Para o ano que vem, podemos ter a mesma dificuldade ou até pior”, disse o consultor.

Já na soja, a conjuntura é bastante favorável. Molinari prevê um aumento da área mundial dedicada ao plantio da oleaginosa e safras recordes em praticamente todos os países produtores. Apesar do aumento da oferta, a demanda deve continuar aquecida, consumindo toda a produção – e, de quebra, segurando os preços internacionais lá em cima.

“Vamos plantar soja até em vaso de flor. Os preços em real estão o dobro dos custos de produção. Sugiro ao produtor já ir antecipando as vendas para 2022. É preço para plantar, colher e ter faturamento garantido, independentemente da Bolsa de Chicago ou do câmbio. É preço que não acaba mais”, disse.

Suínos e a China

Segundo Molinari, a China já dá mostras de ter se recuperado de um surto de Peste Suína Africana (PSA), ocorrido em 2019 e que dizimou a maior parte de seu rebanho de suínos. O plantel chinês foi recomposto em boa medida, já chegando a 35 milhões de cabeças, com matrizes de melhor produtividade. Com isso, a expectativa é de que o gigante asiático reduza suas importações de suínos – o que pode trazer impactos à cadeia produtiva no Brasil.

“Nos últimos três anos, estivemos muito empolgados com esse boom da China, que elevou preços e provocou aportes em exportação. A China não vai deixar de ir ao mercado, mas é provável que se acomode em ritmo de compras de carne suína”, destacou o consultor.

Fonte: FAEP