Especial da Europa – – No passado dia 24 de Janeiro, Portugal reelegeu Marcelo Rebelo de Sousa, para o seu segundo e último mandato de 5 anos.
Portugal, no pós-revolução de 25 de Abril de 1974, teve 5 presidentes, em que todos cumpriram 2 mandatos de 5 anos. A saber, Ramalho Eanes, Mário Soares, Jorge Sampaio, Cavaco Silva e agora Marcelo Rebelo de Sousa, que entra para o seu segundo mandato.
Os resultados expressos são de uma vitória clara, só superada em percentagem pela vitória na reeleição de Mário Soares, em 1986, em que este atingiu uma expressiva vitória com 70,35%. Já Marcelo, em 2021, obteve 60,70% dos votos, sendo o segundo melhor resultado de sempre em eleições presidenciais. No entanto Marcelo consegui um feito único, ganhar em todos os distritos, 21 e ganhar em todas os municípios (prefeituras) 3.092, foi assim, para os outros candidatos, uma corrida pelo segundo lugar.
Nestas eleições de 2021, apresentaram-se 7 candidatos, Marcelo Rebelo de Sousa, Ana Gomes, André Ventura, João Ferreira, Marisa Matias, Tiago Mayan Gonçalves e Vitorino Silva.
Marcelo Rebelo de Sousa, com o apoio do PSD (Partido Social Democrata), partido do qual já foi líder entre Março de 1996 e Maio de 1999, do CDS/PP, partido de ideologia conservadora e apoiado em ideais da democracia cristã, bem como de grande parte do PS (Partido Socialista), que dividiu os seus votos, entre Marcelo Rebelo de Sousa e Ana Gomes, ainda militante do PS.
O grande agitador destas eleições foi André Ventura, professor universitário, de 38 anos, deputado único, no parlamento, do partido Chega, que ganhou popularidade enquanto comentador desportivo. Um homem sem uma linha de pensamento, fundador do Chega, um partido em linha com o populismo de direita, com valores semelhantes aos de Trump, Bolsonaro Salvini ou Le Pen, com um discurso xenófobo, anti sistema e contra a constituição, mas que angariou muitos dos descontentes com o actual estado da política em Portugal, chegando aos 500 mil votos, 11,90%, quase 20% dos votos de Marcelo Rebelo de Sousa e a 45 mil votos da segunda classificada, Ana Gomes, que já foi chefe da missão diplomática portuguesa na Indonésia durante o processo de independência de Timor-Leste e deputada ao Parlamento Europeu, entre 2004 e 2019, pelo PS. Uma mulher de ideias soltas, inconsistente, sem rumo, com um discurso fluído e fácil mas que mesmo assim não captou o apoio do seu partido, o PS. À semelhança de André Ventura, uma populista de esquerda.
Com este resultado em eleições para o Parlamento, o Chega passaria de 1 deputado para um grupo parlamentar entre 19 a 22 deputados, sendo com certeza a terceira força política num parlamento que é composto por 230 deputados.
Os apoiantes do PS dividiram-se no apoio a Marcelo, Ana Gomes e a ala mais à esquerda (residual), ao deputado comunista, João Ferreira, que nestas eleições continuou a pisar as pedras do declínio do PCP (Partido Comunista Português), de ideais Estalinistas, que vem perdendo votos em todas as eleições, tendo nestas eleições, sido ultrapassado pelo candidato da extrema direita, André Ventura, em municípios (perfeituras) tradicionalmente bastiões comunistas, tendo o resultado de 4,32%.
A candidata Trotskista, Marisa Matias, apoiada pelo Bloco de Esquerda, também conhecido pela esquerda caviar, uma esquerda menos proletária, com menos implementação na classe operária e nos sindicatos, mas mais apoiada por uma certa intelectualidade, ela também mais urbana e menos rural, obteve 3,95%, dos votos.
Nos dois últimos lugares ficaram Tiago Mayan Gonçalves, candidato apoiado pela Iniciativa Liberal, um partido recente, também com um deputado, de cariz liberal, que defende menos e melhor estado e mais lugar à iniciativa pessoal e individual de cada um. Mais o indivíduo e menos socialismo, obteve 3,22%,
Também nós em Portugal temos um “Tiririca”, um calceteiro, (homem que faz calçadas) um homem do povo, que num discurso comum sem sofisticação e pouco cuidado tenta chegar ao povo, na expectativa que este veja nele um seu fiel representante. No entanto, o povo só lhe deu 2,94% dos votos.
As Consequências para os Partidos
Embora os partidos não tenham ido a votos, já que é uma eleição para presidente da república, em que quem se candidata são indivíduos e não partidos, estes tiraram as suas consequências destas eleições. Os partidos que apoiaram Marcelo correram ao púlpito a clamar a vitória, PSD e CDS/PP, o primeiro ministro, António Costas, que “lançou” a candidatura de Marcelo, para grande revolta do seu partido (PS), aquando do uma visita conjunta que os dois fizeram à fábrica da Volkswagen em Palmela (25 km a sul de Lisboa), fez-se de morto, sorriu para dentro e congratulou-se pela forma cívica e ordeira como as eleições decorreram, mesmo neste momento de confinamento.
António Costa percebeu também que o seu governo minoritário no parlamento, com 106 deputados, fará toda a legislatura sem receio de uma “rebelião” à esquerda, do BE e/ou do PCP, que têm ambos 19 e 12 deputados respectivamente e que vão segurando o PS, com medo de regresso da direita e exigindo medidas de cariz de esquerda, no mais puro modelo capitalista de interesses. É este entendimento da esquerda que tem viabilizado o governo PS, e são os resultados decepcionantes dos candidatos apoiados por estes partidos que os podem fazer ter receio de uma dissolução do parlamento e consequentemente uma ida a eleições que poder-se-á traduzir em perca de deputados e numa ascensão do Chega.
Quanto à direita tradicional, PSD e CDS/PP, vê-se tentada a fazer um acordo com o Chega, com o intuito de chegar ao poder, no entanto este acordo pode ser ele mesmo motivo de deserção dos eleitores da ala moderada da direita, que não se revê no radicalismo e na falta de valores do Chega, e será o seu afastamento destes partidos.
O próprio presidente da república vê-se, para já, obrigado a conviver com António Costa e com o PS, porque também não vê na direita uma alternativa capaz de o substituir e fazer aquilo que é natural em democracia, a alternância de poder.
Assim, e na tradição do segundo e último mandato do presidente da republica, este mostra-se sempre mais interventivo, junto do governo, cobrando mais e responsabilizando-o mais. Foi assim com todos os antecessores de Marcelo Rebelo de Sousa e estou certo que com ele não será diferente.
Marcelo terá no seu estilo hiperactivo, de quem dorme 2 horas, nada todos os dias num mar que no inverno está a 16 graus e que devora livros compulsivamente, tem pela frente, digo eu, o desafio e sonho da sua vida. Pode ser primeiro ministro e presidente da republica ao mesmo tempo. Apoiará António Costa e encaminhará entre nos ideais do presidente, que quando forem bem sucedidos, serão seus, quando mal sucedidos serão do governo e de António Costa, que ele, Marcelo, depois da asneira feita ajudará a corrigir, somando mais um crédito junto do governo e terá mais um ranger de dentes da direita que desde há muito se sente traída com o apoio deste ao governo socialista.
Quando o Primeiro Ministro é Tradutor
Marcelo corre o risco de ser uma espécie de Jorge I, nasceu em Hanôver e herdou os títulos e terras do seu pai e tios. Sucessivas guerras expandiram os seus domínios germânicos, e ele foi ratificado como príncipe-eleitor de Hanôver em 1708. Após a morte da rainha Ana da Grã-Bretanha, Jorge ascendeu ao trono britânico (1724) aos 54 anos como o primeiro monarca da Casa de Hanôver. Apesar de haver mais de cinquenta católicos que estariam primeiro que Jorge relação de parentesco com Ana e consequentemente que este na sucessão. No entanto, o Decreto de Estabelecimento de 1701 impedia que os católicos assumissem o trono britânico; Jorge era o parente protestante mais próximo da rainha. Em retaliação, os jacobitas tentaram sem sucesso depor Jorge e substituí-lo pelo meio-irmão católico de Ana, Jaime Francisco Eduardo Stuart.
Durante o reinado de Jorge I, os poderes da monarquia foram diminuídos e a Grã-Bretanha começou uma transição para o sistema moderno de governo do conselho de ministros liderados por um primeiro-ministro. No fim do seu reinado, o verdadeiro poder foi exercito por Sir Robert Walpole, o primeiro, primeiro ministro da história, inicialmente não mais que um tradutor, visto que Jorge I não falava inglês, e precisava de um Cabinet (ainda hoje assim é designado o conselho de ministros inglês), para traduzir as suas mensagens à câmara alta, câmara dos lordes. Jorge morreu durante uma viagem de volta para Hanôver, sendo sucedido pelo filho Jorge II.
Marcelo pode ser ao fim de quase 400 anos, um novo Jorge I, que usa Costa como seu tradutor, mas ao invés de Jorge I, diminuirá os poderes do Cabinet.
De Lisboa despeço-me com um forte amplexo e mil ósculos ao povo irmão.
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