Com o objetivo de identificar as condições dentárias mais prevalentes na população e, assim, subsidiar políticas públicas, o Ministério da Saúde lançou a terceira edição da SB Brasil – Pesquisa Nacional de Saúde Bucal. O projeto foi apresentado ao público nesta sexta-feira (11), em Brasília (DF), em evento que teve a parceria do Conselho Federal de Odontologia (CFO).
De fevereiro a junho deste ano, a pesquisa estará na etapa de coleta de dados, começando pelas capitais brasileiras e alcançando, posteriormente, o interior. A SB Brasil se baseia na busca ativa: a equipe de campo vai até a casa das pessoas para fazer a avaliação bucal. No total, serão examinados 50,8 mil moradores de 422 municípios (a maior amostra entre todos os levantamentos já feitos). A pesquisa nacional é feita a cada 10 anos e, inicialmente, estava prevista para ser realizada em 2020, mas precisou ser adiada em decorrência da pandemia de Covid-19.
O secretário de Atenção Primária do Ministério da Saúde, Raphael Câmara, destacou os créditos extraordinários do governo federal para a saúde bucal durante a pandemia e a importância do pré-natal odontológico, que é um dos indicadores do programa de financiamento da APS, e que aumentou em 16% de 2020 a 2021. “Toda gestante do Brasil tem que ter pelo menos uma consulta odontológica”, defendeu o obstetra, lembrando que infecções dentárias oferecem riscos, inclusive de parto prematuro.
A representante da Coordenação de Saúde Bucal de Rondônia, Lenilda Gomes de Sá, uma das participantes do evento, concorda. “Estamos trabalhando em um guia orientador para distribuir a todos os municípios do estado, para que eles tenham um olhar diferenciado sobre a saúde bucal da gestante. Queremos, ainda, melhorar o nosso indicador de gestantes com pré-natal odontológico realizado”, afirmou.
Já a representante da Organização Pan-Americana (Opas/OMS) no Brasil, Socorro Gross, ressaltou o protagonismo do País na temática. “Nem todos os países têm um SUS, como o Brasil, que é tão abrangente, com programas que realmente trabalham pelo bem-estar de nossas populações, sem deixar ninguém para trás”, lembrou.
A mesa de abertura contou, ainda, com a presença do presidente do CFO, Juliano do Vale, e da professora Efigênia Ferreira, representante do grupo de pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), responsável técnica pelo levantamento. Também estiveram presentes Wellington Carvalho (coordenador-geral de Saúde Bucal do Ministério da Saúde), Wilson Chediek (presidente da Associação Paulista de Cirurgiões-Dentistas) e Silvio Jorge Cecchetto (presidente da Associação Brasileira de Cirurgiões-Dentistas), entre outras autoridades.
Quem participa
A pesquisa se baseia na coleta de dados socioeconômicos, por meio de questionário, seguida da avaliação da saúde bucal com um exame físico, de pessoas das seguintes idades: 5 anos, 12 anos, 15 a 19 anos, 35 a 44 anos e 65 a 74 anos. Assim, são identificadas as necessidades e agravos bucais mais prevalentes. Esse trabalho é realizado por equipes de campo compostas por 2,5 mil profissionais da Atenção Primária à Saúde em todo o Brasil. Os agravos identificados terão estimativas por estados, capitais e regiões de municípios do interior.
Essa edição inovou em relação aos levantamentos anteriores por ter usado ferramentas digitais no treinamento da equipe de campo, o que reduziu a necessidade de deslocamentos presenciais. O material desenvolvido está disponível para uso e apoio aos municípios e estados que desejem realizar as próprias pesquisas. Além disso, cada unidade federativa terá um panorama de saúde bucal próprio.
Sobre a pesquisa
A SB Brasil é um levantamento epidemiológico conduzido pela Coordenação-Geral de Saúde Bucal do Ministério da Saúde, que caracteriza as condições dentárias da população brasileira. Por meio do levantamento, são verificadas a prevalência de agravos de saúde bucal (como dentes cariados, perdidos e obturados, doenças periodontais, necessidade de próteses dentárias, aparelhos ortodônticos, condições da oclusão e traumatismo dentário), condições de acesso, principais serviços acessados, periodicidade da visita ao dentista, ocorrência de episódios agudos de agravos bucais, impacto das condições de saúde bucal na qualidade de vida e outras necessidades dentárias.
Essas informações viabilizam a proposição de políticas públicas e estratégias (nas esferas nacional, estadual e municipal), assim como o monitoramento e avaliação das estratégias em curso da Política Nacional de Saúde Bucal (PNSB), e marca a continuidade de pesquisas realizadas em 2003 e 2010, consolidando uma série histórica. Também oferecem condições de avaliar a evolução das condições de saúde bucal longitudinalmente e comparando com outros países.
Em dezembro de 2021, Belo Horizonte recebeu a iniciativa como cidade piloto da pesquisa. As equipes de saúde treinadas fizeram a coleta de dados com moradores da capital mineira para ajustar detalhes técnicos antes de expandir para o restante do País. A SB Brasil tem a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) como instituição técnica responsável, e conta com apoio das secretarias estaduais e municipais de saúde, do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems), da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas/OMS), de universidades e institutos de pesquisa em saúde pública, do CFO e de instituições representativas da área de odontologia no País.
Outros iniciativas
Além da SB Brasil, o Ministério da Saúde fez mais dois lançamentos durante o evento. Um deles foi o da segunda edição do Guia de Orientações para Atenção Odontológica no Contexto da Covid-19. O material foi desenvolvido pelo Ministério da Saúde em parceria com o CFO para orientar gestores e profissionais na organização dos serviços de saúde bucal no contexto da pandemia. A nova edição atualiza o guia de 2020 com base em novas evidências científicas disponíveis, considerando o cenário epidemiológico mais atual.
Também foi anunciado o Censo Demográfico da Força de Trabalho Odontológica no Brasil. A pesquisa tem o objetivo de descrever o perfil dos trabalhadores da área de odontologia, consideradas as cinco categorias profissionais regulamentadas hoje: cirurgiões-dentistas, técnicos e auxiliares em saúde bucal e técnicos e auxiliares em prótese dentária. Os resultados também mostrarão qual a distribuição e as potencialidades da força de trabalho em saúde bucal no País. O censo será desenvolvido pelo Conselho Regional de Odontologia do Rio de Janeiro (CRO-RJ), em parceria com o CFO e a Organização Pan-americana da Saúde (Opas). O Ministério da Saúde investiu R$ 500 mil na ação.
Laísa Queiroz – Ministério da Saúde